Pequeno Demônio tem sido anunciado como um filme que se apropria das marcas de filmes de terror calcados em histórias que envolvem crianças e forças demoníacas, como O Iluminado, A Profecia e Poltergeist. Claro que todas estas referências são exibidas na produção original da Netflix dirigida e roteirizada por Eli Craig, o mesmo de Tucker e Dale contra o Mal, mas o filme acaba evitando o erro das paródias mais recentes do cinema com um roteiro que não quer ofertar ao espectador uma série de esquetes aleatórias baseadas em momentos emblemáticos desses filmes. Existe em Pequeno Demônio uma construção autônoma de narrativa, personagens e relações que fazem do filme uma das mais gratas surpresas entre as comédias de 2017.
No longa, o ator Adam Scott, conhecido pela série Parks and Recreation e recentemente por Big Little Lies, interpreta Gary, um corretor de imóveis recém casado com Samantha, personagem de Evangeline Lilly (de Homem-Formiga). O matrimônio traz para Gary a responsabilidade de ser uma referência paterna para o enteado Lucas. No entanto, na medida que o convívio vai se estreitando o garoto começa a apresentar um comportamento estranho que indica um vínculo mais do que óbvio com forças ocultas.
O longa de Craig é uma comédia bem executada, dosando muito bem os momentos em que precisa estabelecer elos dramáticos e emotivos entre seus personagens - e, consequentemente, entre eles e o público - com as situações nas quais deseja fazer humor com as marcas dos gêneros e filmes com os quais pretende dialogar. É uma pena que parte das piadas sejam ofertadas no trailer do longa, por isso, se posso fazer uma recomendação, não assista ao mesmo, mas ainda assim há algumas surpresas reservadas no terceiro ato do filme, sobretudo quando a relação entre Gary e Lucas passa a assumir outros contornos, algo que, por exemplo, me fez lembrar da relação entre John Ritter e o garoto Michael Oliver no clássico da Sessão da Tarde O Pestinha.
Por conseguir equilibrar e unir a paródia e o anseio de construir um filme com personalidade própria, Pequeno Demônio acerta o tom da "conversa" com o seu público sem tratá-lo como imbecil, tal qual vem fazendo alguns títulos de Todo Mundo em Pânico 2 para cá. A comédia é simpática, facilitada pelo seu elenco carismático, com destaque para o próprio Scott e Bridget Everett, que vive a colega de trabalho do protagonista. Entretém sem prejuízos, como uma sessão descompromissada deve ser.
Little Evil, 2017. Dir.: Eli Craig. Roteiro: Eli Craig. Elenco: Adam Scott, Evangeline Lilly, Owen Atlas, Sally Field, Clancy Brown, Bridget Everett, Tyler Labine, Carla Gallo, Donald Faison, Kyle Bornheimer, Chris D'Elia, Hank Harris. Netflix, 95 min.
Assista ao trailer do filme:
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