Aos 23 anos, o paraibano Elias vive em São Paulo, tem um emprego e um cargo que dão uma razoável autonomia para alguém da sua idade e conhece um número sem fim de pessoas. Em Corpo Elétrico, o seu jovem protagonista apresenta uma série de fatores que o fazem exercitar sua sexualidade em ampla e variada escala. Ao longo do filme, Elias percebe o poder do seu corpo e o fascínio que o mesmo exerce nos outros em um processo de definição de identidade e da auto-estima nos primeiros anos da vida adulta. Assim, homossexual bem resolvido, Elias vive a plenitude da chegada dos 20 anos e é sobre esse estágio da vida que o diretor Marcelo Caetano, estreando na condução de longas de ficção, quer tratar.
No filme, acompanhamos a vida de Elias, esse rapaz que trabalha em uma confecção na Mooca, bairro de São Paulo e, ao longo do filme, o público acompanhará uma série de experiências de relacionamentos do personagem - de amizade, puramente sexuais, afetivas - que acabam servindo para que ele se entenda como indivíduo longe de sua terra natal, a Paraíba. Com uma carreira em festivais muito bem repercutida, Corpo Elétrico chega ao circuito comercial com uma proposta de olhar para essa juventude, contemplando toda sorte de personagens, uma escolha que serve para desmistificar estereótipos comumente associados a personagens LGBT. Há um olhar extremamente democrático para as possibilidades de exercício da sexualidade, estimulado pelo fato da própria obra ter como centralidade o breve arco desse protagonista.
Evitando as artificialismos e as afetações típicas da narrativa clássica cinematográfica quando a mesma cai em armadilhas, é como se Caetano exercitasse a sua verve voyeur com Elias a fim de contemplar um recorte mais próximo do real possível, no qual as pessoas estabelecem dinâmicas que não necessariamente produzem consequências em atos futuros na trama, estabelecem diálogos sem sentido e não tem um encerramento de sua jornada quando os créditos finais passam a ser exibidos na tela. A proposta do diretor é a da vida em eterno contínuo calibrada por um elenco interessante, a começar pelo seu protagonista, o jovem Kelner Macêdo, de fato, uma revelação.
Corpo Elétrico é um longa que trata do desabrochar de uma sexualidade. É como se a cada nova experiência de Elias, ele ficasse mais próximo da sua afirmação enquanto homem: quem ele é, o que e quem ele deseja, o que quer para a sua vida e o que não quer. Cada passo desse personagem é importante para um processo de construção de si e de afirmação. Ele se descobre num caldeirão de possibilidades como São Paulo, longe dos olhares daqueles que o conhecem desde sempre, e toma conta daquele espaço no qual, curiosamente, não se sente estrangeiro, mas detentor daquela espacialidade.
Corpo Elétrico, 2017. Dir.: Marcelo Caetano. Roteiro: Marcelo Caetano, Hilton Lacerda e Gabriel Domingues. Elenco: Kelner Macêdo, Lucas Andrade, Welket Bungué, Ana Flávia Cavalcanti, Ronaldo Serruya, Marcia Pantera, MC Linn da Quebrada, Henrique Zanoni, Evandro Cavalcante. Vitrine Filmes, 94 min.
Assista ao trailer do filme:
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