Chegando ao Brasil exclusivamente pela Netflix, Amores Canibais é, certamente, um filme que mira alto. A diretora e roteirista Ana Lily Amirpour tem a intenção de criar um romance com ecos de Mad Max, ambientado na fronteira além Texas, retratada como um deserto habitado por homens e mulheres cujo convívio na civilização fora negado em função das suas contravenções. Para sobreviver, alguns deles recorrem ao consumo de carne humana, caçando suas vítimas nas areias escaldantes de um mundo completamente nulo de perspectivas. Nesse contexto, Amirpour concebe o encontro entre uma das vítimas dos canibais, Arlen, papel de Suki Waterhouse (de Orgulho, Preconceito & Zumbis), e um dos adeptos da prática de sobrevivência, o cubano Miami Man, vivido por Jason Momoa (o Aquaman dos filmes da Warner/DC).
Como sinalizado, as intenções da cineasta são louváveis. Durante parte do tempo, o filme consegue de fato captar a atenção do espectador. Existe em Amores Canibais um refinamento fotográfico que faz com que cada plano do filme seja extremamente estetizado em constante coerência com a proposta distópica da obra. Ao mesmo tempo, é interessante como em diversos momentos Amirpour consegue se comunicar com o espectador e construir toda a sua narrativa numa completa economia de diálogos, sustentando a tecitura da sua história no apelo visual do filme, montagem, interpretações dos atores e trilha sonora.
Contudo, aos poucos, Amores Canibais revela suas fragilidades. A trama central do filme, que envolve o encontro entre a heroína Arlen e o Miami Man demora a acontecer (cerca de uma hora depois do filme começar) e quando ocorre é completamente oco de emoção, não conseguindo estabelecer laço afetivo algum entre os personagens. Passada uma hora de filme, Amores Canibais deixa de seduzir o espectador com suas singularidades e passa a aborrecê-lo, demonstrando, sobretudo, a inconsistência de uma história que não consegue construir personagens que tenham corpo o suficiente para o espectador entender suas ações.
Há uma participação de Keanu Reeves lá pelas tantas como um vilão completamente apático, apesar de, como parte dos elementos do filme, oferecer vestígios da boa intenção da sua cineasta ao concebê-lo como uma espécie de chefão da região. No entanto, quem rouba a cena mesmo é Jim Carrey, irreconhecível como um andarilho maltrapilho que ajuda o personagem de Momoa em dado momento. Os protagonistas Suki e Waterhouse e Jason Momoa até tentam garantir o interesse do público com seus personagens, mas pouco conseguem, sobretudo a primeira. Contudo, nem podemos culpabilizá-los tendo em vista que o projeto em que estão inseridos, apesar de ser centrado em seus personagens, faz muito pouco por ambos. O filme definitivamente não se ajuda.
The Bad Batch, 2017. Dir.: Ana Lily Amirpour. Roteiro: Ana Lily Amirpour. Elenco: Suki Waterhouse, Jason Momoa, Jayda Fink, Keanu Reeves, Jim Carrey, Yolanda Ross, Giovanni Ribisi, E.R. Ruiz, Cory Roberts. Netflix, 118 min.
Assista ao trailer do filme:
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