Mais recente adição na grade da Netflix, Death Note é uma produção original do site de streamings que busca adaptar o mangá homônimo mundialmente cultuado de Tsugumi Ôba e Takeshi Obata para o formato de um longa metragem. O resultado, porém, não é dos mais simpáticos, já que, como longa, a sensação que Death Note nos passa é a de ter pressa para resolver os principais conflitos de sua narrativa, não abrindo brecha para o espectador entender os meandros de sua trama ou se envolver com seus personagens, cuja construção parece ficar na superficialidade.
Na história, Nat Wolff (de Cidades de Papel) vive o adolescente Light Turner. O rapaz tem tentado seguir em frente com a sua vida após a trágica morte da sua mãe, vítima de uma ocorrência criminosa cujos responsáveis nunca foram punidos. Eis que no intervalo de uma de suas aulas Light se depara com um caderno chamado Death Note que lhe sugere como tarefa escrever o nome de pessoas que acredite merecer uma sentença de morte. Light leva o caderno para casa e passa a receber ocasionais visitas de Ryuk, um Deus da morte dublado por Willem Dafoe (A Grande Muralha). As coisas, no entanto, começam a sair do controle e a vida do próprio Light passa a correr perigo quando o caderno da morte é usado de maneira inadvertida.
De antemão, aviso aos fãs do material que não possuo familiaridade com o mangá, tampouco com o anime que foi feito com o mesmo, e também não acredito que isso seja determinante para avaliar o filme, já que, como produto autônomo que se apresenta ele pode ser perfeitamente julgado por si próprio. De cara, pelo filme, dá para sentir que estamos diante de uma fonte que realmente possui um conceito interessante através de uma história que tem como ideia central conferir a um adolescente amargurado e contrariado com as injustiças do mundo o poder de definir quem tem o direito de seguir habitando nele ou não, além de introduzir posteriormente reflexões sobre extremismos religiosos com as atribuições dos atos de Light e Ryuk a uma entidade chamada de Kira.
No entanto, fica claro que o longa não consegue administrar o material que tem em mãos. A sensação que fica é a de que os roteiristas trouxeram uma quantidade muito grande de informações do mangá a fim de tentar dar conta de tudo em um longa de uma hora e quarenta minutos, atendendo às eternas demandas de fidelidade dos fãs que costumam recair sobre esse tipo de material. O resultado é um amontoado de personagens cujos conflitos nos parecem importantes e que oferecem relances de profundidade, mas que nunca têm tempo o suficiente na tela para exibi-los, entre eles, o seu protagonista Light, o que é extremamente grave. Tudo é muito corrido e Death Note não consegue dimensionar dramaticamente as questões centrais e de fundo pessoal que fizeram Light ceder à tentação de recorrer ao caderno da morte do título do longa, isso é letal para a obra.
Os entraves nas relações que os personagens precisam estabelecer com o espectador para que a história tenha o mínimo de urgência, empatia e importância para o público se agravam com uma direção que aparenta ter dificuldade para administrar os diversos tons que sua história possui. Em momentos de clara dramaticidade, o diretor Adam Wingard, de Bruxa de Blair e O Hóspede, parece querer também oferecer uma comicidade que soa imprópria para o momento, como na morte de uma importante personagem no final do terceiro ato. Ao final, Death Note se revela o típico caso no qual na falta de saber o que fazer com as demandas que se têm em mãos, atira-se para todos os lados e numa velocidade que o público não consegue acompanhar.
Death Note, 2017. Dir.: Adam Wingard. Roteiro: Charley Parlapanides, Vlas Parlapanides e Jeremy Slater. Elenco: Nat Wolff, Willem Dafoe, Margaret Qualley, Shea Whigham, Lakeith Stanfield, Paul Nakauchi, Jack Ettlinger. Disponível na Netflix, 101 min.
Assista ao trailer do filme:
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