Faz um ano que temos recebido um volume considerável de notícias em sites brasileiros preparando o terreno para o público daqui recepcionar Os Guardiões, um filme de ação russo que tem como enfoque uma equipe de super humanos com poderes desenvolvidos em laboratório durante a Guerra Fria. Eis que na proximidade do seu lançamento comercial no Brasil, nos deparamos com uma obra que não merece tanto estardalhaço, pois, do ponto de vista técnico, não há o que nos impressione, já que seu CGI em diversos momentos é grotesco e conseguimos distinguir claramente o real e as intervenções digitais, mas o que é mais grave é a condução criativa de sua história, praticamente nula. Em suma, estamos diante de uma "bomba".
No longa, em plena Guerra Fria, uma organização chamada Patriota desenvolve junto a cientistas um projeto que busca transformar humanos em super seres com o objetivo de defender a Terra de ameaças externas, que sequer têm sua explicação esmiuçada, mas também o filme parece pouco se importar com isso. Anos se passam e um grupo de indivíduos que se submeteu às intervenções no laboratório é recrutado a fim de conter uma ameaça que põe em risco a vida de muitos. Enfim, tudo é justificativa para a pirotecnia barata empreendida por efeitos digitais em Os Guardiões.
Não será o caso de anunciarmos Os Guardiões, cujo título é completamente aleatório, como um filme que chega para dar lição de moral nos longas da Marvel ou da Warner/DC. Na verdade, o filme é um verdadeiro retrocesso em seu nicho de produção já que se apropria de maneira canastrona de uma série de cacoetes ultrapassados dos filmes de super-heróis. Tentando passar a impressão de trama complexa, marcada por acontecimentos grandiosos e emocionalmente engajada, o roteiro do longa é precário, se preocupando em explicar da maneira mais pré-escolar possível os passos dados por seus personagens ao longo do filme, suas motivações e, o que é pior, seus sentimentos, algo que deveria ser construído muito mais do ponto de vista das ações do que das falas. Tudo em prol do fortalecimento dos elos da equipe que dá título ao filme, uma tentativa fracassada tamanha a artificialidade do desenvolvimento de trama e personagens.
A ideia do longa parecia reunir personagens que representassem os diversos povos que constituíram a antiga União Soviética, a fim de que eles pudessem proteger cada um deles. A ideia e todo o contexto que o filme procura trazer para a história não deixa de ser interessante, mas falta amadurecimento na maneira como ele lida com todo esse material. O longa se preocupa demais com uma ação que claramente não consegue empolgar - com personagens que, por sinal, possuem poderes cuja utilidade no campo de batalha é questionável, como uma mulher que fica invisível no contato com a água ou um homem que move pedras - e esquece de dar tempo para seus personagens se apresentarem ao público em seus dilemas, estabelecendo assim vínculos que pudessem tornar a experiência de assistir ao filme minimamente relevante.
Somado às atuações precárias do seu elenco, Os Guardiões consegue cumprir o feito de ser um filme cuja uma hora e meia de projeção é um exercício de resistência para o espectador, já que chegar ao fim de uma história tão desinteressante é praticamente uma tortura. Emulando os produtos da Marvel, há uma cena pós-créditos que só serve para sublinhar o caráter oportunista e grosseiro do projeto. Olhando para trás, todo o alarde em torno desse filme pareceu mais estratégia de venda para públicos estrangeiros do que uma dimensão real do próprio material em questão.
Zashchitnik, 2017. Dir.: Sarik Andreasyan. Roteiro: Sarik Andreasyan. Elenco: Anton Pampushnyy, Sanjar Madi, Sebastien Sisak, Alina Lanina, Valeriya Shkirando, Vyacheslav Razbegaev, Stanislav Shirin, Aleksandr Komissarov. Paris Filmes, 89 min.
Assista ao trailer do filme:
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