A princípio quando a Warner anunciou o nome de David F. Sandberg como diretor de Annabelle 2: A Criação do Mal, segundo filme sobre a boneca amaldiçoada que é parte do universo de horror derivado de Invocação do Mal, confesso que não fui tomado por muita animação com o projeto. O diretor tinha no seu histórico o longa Quando as Luzes se Apagam, que a despeito do ótimo curta que o originou é um filme do gênero que não fez muito a minha cabeça (leia a crítica aqui), e o primeiro longa da boneca lançado em 2014, Annabelle, é bem decepcionante. As preocupações foram vãs, Annabelle 2: A Criação do Mal é um filme de terror e tanto e vale principalmente pelo excelente trabalho do seu diretor.
No longa, acompanhamos eventos que antecederam Annabelle quando um artesão de bonecas e sua esposa são surpreendidos pela morte brutal da sua única filha. Doze anos depois dos eventos, o casal recebe em sua casa uma freira e um grupo de órfãs desabrigadas. Aos poucos, estranhos eventos começam a ocorrer no local quando o quarto da filha do casal é violado por uma das garotas. Mais que isso prometo não adiantar para não estragar a experiência do leitor com o filme.
Um dos pontos positivos de Annabelle 2: A Criação do Mal é a maneira como David F. Sandberg lida com os eventos demoníacos que tomam conta da propriedade rural que serve de cenário para o filme. O longa literalmente não dá trégua ao espectador após a sua meia hora inicial, importante para a apresentação das suas personagens e entrega de vários elementos que mais tarde serão reunidos de forma que façam a trama ganhar sentido e lugar no universo de horror compartilhado de Invocação do Mal. Assim como os filmes de James Wan, Invocação do Mal e Invocação do Mal 2, Annabelle 2: A Criação do Mal apresenta um cuidado exímio na maneira como exibe e esconde elementos que acionam a sensação de horror no espectador, criando sequência atrás de sequência marcada pela tensão das suas personagens no encontro com manifestações que não são desse mundo.
Ao mesmo tempo em que o ritmo do filme e o manejo que ele tem dos seus momentos de tensão demonstram um fôlego imenso do longa com sua sucessão de eventos, não é algo frenético e propenso aos famigerados sustos gratuito, são cenas cuja reação das suas personagens ao sobrenatural e sua descoberta gradual aderem à trama e também à construção delas como protagonistas desse conto macabro. Um dos acertos é concentrar seus eventos nas crianças da história, algo que sempre rende ótimos exemplares do gênero que exploram o medo infantil em espaços aparentemente inofensivos durante a noite. Há em Annabelle 2 ainda um uso inteligente de elementos como a luz e sua ausência, bem como signos religiosos presentes em todo o seu cenário, cujos objetos e cômodos trazem detalhes de cruzes, algo que dialoga com a presença do catolicismo em toda a sua história já que o casal vivido por Anthony LaPaglia e Miranda Otto são religiosos e o grupo de órfãs vem de uma casa dirigida por freiras.
Apagando de vez a péssima impressão do frustrante Annabelle, Annabelle 2: A Criação do Mal é um ótimo exemplo de como uma continuação pode corrigir os péssimos rumos e a impressão ruim do seu antecessor. O filme ganha com a direção de David F. Sandberg que demonstra habilidade para construir uma atmosfera assustadora e ter fôlego para manter o espectador grudado na sucessão ininterrupta de eventos macabros que tomam conta da vida das suas personagens. Se for para ser como Annabelle 2, que James Wan e cia. expandam o universo de horror de Invocação do Mal para a direção que quiserem. Por esse caminho está ótimo e os fãs do gênero agradecem.
Annabelle: Creation, 2017. Dir.: David F. Sandberg. Roteiro: Gary Dauberman. Elenco: Anthony LaPaglia, Miranda Otto, Samara Lee, Brad Greenquist, Lulu Wilson, Talitha Bateman, Stephanie Sigman, Mark Bramhall, Grace Fulton, Philippa Coultard, Tayler Buck. Warner, 109 min.
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