Os conflitos pós-11 de setembro, assim como a guerra do Vietnã outrora, já viraram temas batidos entre as produções hollywoodianas. Com produção eminentemente americana e britânica, Castelo de Areia retoma suas questões reciclando ideias que já foram trabalhadas com maior sensação de brilhantismo em filmes como Guerra ao Terror ou A Hora mais Escura, ambos de Kathryn Bigelow, problematizando tópicos como a perspectiva dos soldados sobre os eventos e os efetivos ganhos dos conflitos no Afeganistão e Iraque. O grande problema é que a empreitada internacional do brasileiro Fernando Coimbra (premiado lá fora por seu brilhante trabalho em O Lobo Atrás da Porta) passa em suas quase duas horas de duração a indelével sensação de reiteração das discussões que pretende trazer.
O filme é todo contado pelo ponto de vista de Matt Ocre, um jovem soldado americano em missão no Iraque, que como outros tantos iguais a ele está ali por motivações bem opostas ao senso de dever com sua nação. Ocre vai para a guerra porque deseja pagar sua faculdade quando retornar aos EUA, simples e pragmático assim. Por um tempo, o jovem tenta de um tudo para sair daquele inferno, mas não consegue e acaba ficando junto a um grupo de soldados cujas motivações são completamente distintas das suas. As coisas mudam quando Ocre e seu grupo recebem a missão de levar água potável a pequenas vilas no país e por ironia do destino acabam se vendo em um território ainda mais minado que a zona de conflito em si.
Castelo de Areia tem ideias muito diretas sobre a situação em que seu protagonista se encontra: de um lado mostra a importância nula daquela guerra na vida dos seus combatentes e procura desmistificar a visão do soldado como um sujeito destemido e propenso a arcar com os riscos das suas perigosas missões e do outro lado evidencia como nenhum atrito será cessado se no esforço de neutralizá-lo utiliza-se a truculência como foi o caso da campanha americana no Iraque. Ainda que não sejam pontos de vista inéditos sobre o conflito e os personagens que o viveram, não deixa de ser um ponto positivo para Castelo de Areia ter essa dimensão humanística de toda a situação. O filme reitera temáticas e não pontos de vista rasos e conservadores sobre aquilo que é narrado.
A direção de Fernando Coimbra é protocolar. A câmera elegante do diretor em O Lobo Atrás da Porta pode ser percebida aqui ou ali em decisões curiosas na condução do filme, como alguns planos sequência, mas ficam por isso mesmo, nada é levado ao limite. Um dos destaques do filme, porém, é o desempenho dos seus atores, talvez um traço do realizador que traga de sua experiência no Brasil: Nicholas Hoult exerce bem a responsabilidade de ter o longa carregado em seus ombros, Henry Cavill interpreta com êxito um sujeito bem diferente do Superman que já estamos habituados a vê-lo interpretar nos cinemas e Logan Marshall-Green (que já tínhamos visto em The Invitation, também disponível no Netflix) tem um desempenho que se destaca pelas reações do seu sargento Harper em interação com o jovem e inexperiente protagonista. No final das contas, não dá para esperar que Castelo de Areia seja um filme marcado por rompantes de genialidade e que Coimbra exiba um terço do seu poder criativo nessa empreitada, mas o filme tem seus méritos.
Sand Castle, 2017. Dir.: Fernando Coimbra. Roteiro: Chris Roessner. Elenco: Nicholas Hoult, Logan Marshall-Green, Henry Cavill, Glen Powell, Tommy Flanagan, Beau Knapp, Sam Spruell, Neil Brown Jr., Navid Negahban, Ziad Abaza. Netflix, 113 min.
Assista ao trailer do filme:
COMENTÁRIOS