Estrelas Além do Tempo é daqueles tipos de filme cuja história que o inspira consegue se impor ao espectador mesmo diante de eventuais problemas da trama, que são poucos é verdade. O longa dirigido e co-roteirizado por Theodore Melfi (de Um Santo Vizinho) aborda o espectador com simpatia e traz a história verídica de um trio de funcionárias da NASA que foram fundamentais para as primeiras missões de sucesso dos EUA durante a corrida espacial na década de 1960. Assim, à frente da trama, temos três personagens que representam uma equação raramente vista nas telas, especialmente assumindo um protagonismo tão declarado. As três figuras centrais desta história são mulheres, negras e ocupam funções intelectuais e administrativas importantes em um território dominado por homens brancos como a NASA, todas afirmando seus direitos em um contexto de forte segregação racial.
O drama baseado em fatos verídicos tem problemas? Tem. O filme de Melfi é excessivamente engessado e esquemático na construção da sua narrativa, genérico como parte das histórias edificantes que existem por ai. Estrelas Além do Tempo quer comover o espectador com cenas que colocam em itálico e caixa alta os alívios cômicos, os dramas, os romances e as conquistas das suas mulheres. O filme deixa qualquer sutileza de lado quando, por exemplo, reserva dois momentos específicos da trama para um monólogo-discurso das personagens de Taraji P. Henson (a matemática Katherine, centro da história) e de Janelle Monáe (a engenheira Mary Jackson) como se acenasse claramente para o Oscar, curiosamente, no final das contas, nenhum desses momentos foram o suficiente para render indicações para às duas (Octavia Spencer foi a indicada do grupo como atriz coadjuvante). Há no longa cacoetes hollywoodianos excessivos que ao invés de contribuírem com o tom leve do filme, fazem com que o espectador adentre ocasionalmente na zona da descrença e do cinismo. Certos movimentos da trama de Estrelas Além do Tempo poderiam ser mais sutis sem que com isso o filme deixasse de surtir o mesmo efeito e apresentar a abordagem que ele propõe apresentar, um misto de descontração e forte discurso social.
O longa também peca na construção de personagens coadjuvantes, simplificando suas personalidades a estereótipos batidos, como o galã na figura do interesse amoroso da personagem de Henson, o ator Mahershala Ali (destaque nessa temporada com outro filme, Moonlight), a supervisora megera vivida por Kirsten Dunst e o chefe pragmático de Kevin Costner. Sobre o personagem de Costner é preciso sublinhar que, positivamente, Estrelas Além do Tempo não derrapa como Histórias Cruzadas, filme com o qual vem sendo comparado. Os atos de ajuda do personagem de Costner, um homem branco, à protagonista são fruto do seu pragmatismo como profissional (ele quer se cercar dos melhores técnicos na execução das suas funções e com o tempo Katherine mostra-se muito competente). Além disso, a Katherine de Taraji P. Henson consegue as coisas por méritos próprios, da mesma maneira que Mary Jackson e Dorothy.
O longa também peca na construção de personagens coadjuvantes, simplificando suas personalidades a estereótipos batidos, como o galã na figura do interesse amoroso da personagem de Henson, o ator Mahershala Ali (destaque nessa temporada com outro filme, Moonlight), a supervisora megera vivida por Kirsten Dunst e o chefe pragmático de Kevin Costner. Sobre o personagem de Costner é preciso sublinhar que, positivamente, Estrelas Além do Tempo não derrapa como Histórias Cruzadas, filme com o qual vem sendo comparado. Os atos de ajuda do personagem de Costner, um homem branco, à protagonista são fruto do seu pragmatismo como profissional (ele quer se cercar dos melhores técnicos na execução das suas funções e com o tempo Katherine mostra-se muito competente). Além disso, a Katherine de Taraji P. Henson consegue as coisas por méritos próprios, da mesma maneira que Mary Jackson e Dorothy.
Dentro da sua zona limítrofe de história edificante à la Hollywood, Estrelas Além do Tempo tem muito mais méritos do que falhas, no entanto. Como antecipado anteriormente, ele traz luz ao trabalho de três mulheres que merecem toda a reverência que o filme escancaradamente lhes presta. Katherine, Dorothy e Mary podem ter contado com a ajuda de homens brancos ao longo de sua jornada, como muitos irão se queixar, mas os méritos de suas conquistas são exclusivamente seus e o filme faz questão de sublinhar isso sem a menor discrição, como faz com outros aspectos da narrativa. Além disso, o longa consegue abordar o preconceito racial nos EUA da sua época, destacando a política de segregação e o reflexo disso na jornada pessoal e profissional das suas personagens principais.
Com mulheres de trajetórias apaixonantes, inevitavelmente, o filme acaba sendo palco para as atrizes Taraji P. Henson, Octavia Spencer e a revelação (no cinema) Janelle Monáe, mais conhecida do público por seu trabalho na música. O trio sintetiza com muito entrosamento o verdadeiro significado da palavra sororidade, a união e amizade entre mulheres, algo muito raro nas telas. Se existem fragilidades ou cacoetes em Estrelas Além do Tempo a presença do trio ao menos ameniza as coisas, sobretudo quando tem como referência uma história tão poderosa e importante vivida por personagens infelizmente pouco conhecidas e creditadas por seus grandes feitos na história norte-americana. Katherine, Dorothy e Mary desafiaram os preconceitos de uma época dominada por homens brancos em esferas sociais repletas de intolerância como a científica. É preciso prestar homenagens a estas mulheres e nisso a falta de meias palavras de Estrelas Além do Tempo acerta em cheio.
Hidden Figures, 2016. Dir.: Theodore Melfi. Roteiro: Theodore Melfi e Allison Schroeder. Elenco: Taraji P. Henson, Octavia Spencer, Janelle Monáe, Kevin Costner, Kirsten Dunst, Mahershala Ali, Jim Parsons, Aldis Hodge, Glen Powell, Kimberly Quinn. Fox, 127 min.
Assista ao trailer do filme:
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