É curioso como ainda que o cinema de animação tenha dado provas de ser um dos nichos cinematográficos mais criativos dos últimos anos (Zootopia, Divertida Mente), volta e meia os estúdios hollywoodianos lançam títulos que subestimam os pequenos e sua capacidade de se envolver com tramas mais elaboradas. Trolls parece seguir esse caminho, ainda que conte com um início que, se não promete uma história marcada pela inventividade ou brilhantismo de ideias e reflexões, ao menos vislumbra uma narrativa potencialmente correta e linear, um agradável passatempo. Contudo, todo esse potencial é mal aproveitado em um filme que toma decisões erradas no seu roteiro.
Inspirado em uma linha de bonecos dos anos de 1980, a animação tenta dar corpo próprio ao universo dos duendes de cabeleiras coloridas arrepiadas. No filme, os trolls vivem felizes em seu reino até que são capturados. Os algozes das criaturinhas cantantes e coloridas são ogros que descobrem que, ao ingerir trolls, a felicidade se instaura em suas vidas, proporcionando momentos de plena alegria. Tudo muda quando o grupo de duendes coloridos consegue escapar da armadilha que lhes fora criada, condenando seus caçadores a anos de completa infelicidade. Quando o paradeiro dos trolls é descoberto, surge uma nova ameaça a existência dessas criaturinhas e a princesa Poppy e Branch, o mais infeliz dos trolls, devem unir forças para resgatar seus amigos e salvar o seu povo.
A equipe dos diretores Mike Mitchell (de Shrek para Sempre) e Walt Dohrn (saído da série animada Bob Esponja) até consegue oferecer um visual interessante para o filme, algo que deve atrair as crianças menores pela cartela de cores e formas que cada cenário e personagem traz consigo. A animação também é simpática por apostar no gênero musical e conseguir incorporar os números ao próprio universo dos trolls, fazendo com que clássicos como "The Sound of Silence" ou "True Colors" não sejam aleatórios na tela. É uma pena que o roteiro de Jonathan Aibel e Glenn Berger (Ambos de Kung Fu Panda 3) se enrole no segundo e terceiro ato da produção com tramas que desviam o filme do seu conflito central (me refiro ao deslocado romance entre o rei dos caçadores de trolls e a sua pobre e tímida empregada), personagens que mudam de comportamento aleatoriamente (há um traidor na história) e uma resolução do conflito central abrupta (e que acaba da maneira mais confortável e preguiçosa possível, ou seja, num alegre número musical). Trolls tem seus méritos e deve se comunicar em algum nível com seu público, mas podia oferecer bem mais a ele.
Trolls, 2016. Dir.: Mike Mitchell e Walt Dohrn. Roteiro: Jonathan Aibel e Glenn Berger. Vozes de: Justin Timberlake, Anna Kendrick, Zooey Deschanel, Christine Baranski, Jeffrey Tambor, Christopher Mintz-Plasse, James Corden, Gwen Stefani, Russell Brand, John Cleese, Quvenzhané Wallis. Fox, 92 min.
Assista ao trailer do filme:
COMENTÁRIOS