Quando A Bruxa de Blair foi lançado em 1999, o mundo tomou o filme como novidade. Apesar de ter sido explorado em outras ocasiões, o found footage (modelo de filme marcado pela montagem de tomadas "amadoras" supostamente encontradas por terceiros) popularizou-se com o filme de terror de Daniel Myrick e Eduardo Sánchez. O longa também trouxe para a indústria cinematográfica um modelo de campanha de marketing agressiva que confundia os espectadores a respeito da veracidade dos eventos mostrados na história, ocasionalmente vendida como uma espécie de documentário.
A trama era centrada em um grupo de estudantes de cinema realizando um documentário sobre a maldição que rondava os bosques de uma cidade no estado de Maryland, EUA. Até o filme ser lançado nos cinemas, muitas especulações giraram em torno dos eventos mostrados no longa que se apresentava como uma costura dos registros filmados pelo grupo de protagonistas. Tratava-se de ficção pura ou os diretores de fato haviam montado o seu filme com base em um material que de fato existiu? Claro que mais tarde o caráter ficcional do título veio a público, mas não há como negar que, na época, a campanha surtiu um grande efeito.
Bruxa de Blair é uma continuação direta do filme de 1999. A história gira em torno de uma nova equipe de jovens cineastas dispostos a investigar os mistérios que rondam os bosques de Burkittsville. Dessa vez, há uma motivação pessoal, um dos membros da equipe deseja com o filme "exorcizar" o luto da sua irmã, vítima dos eventos do primeiro longa, através de um novo documentário. Claro que, a medida que a história avança, a nova equipe, tal qual o trio do primeiro longa, se vê encurralada por inúmeros acontecimentos estranhos na floresta e resta, inicialmente, ao espectador e aos personagens a dúvida: tudo não passa de obra da tal bruxa que supostamente assombra o local ou os eventos são frutos de uma emboscada?
Na tentativa de ser uma continuação do longa de 1999, Bruxa de Blair falha por não se desvencilhar da estrutura do roteiro e da técnica de filmagem do primeiro filme. O título repete a trajetória do antecessor nos fazendo acompanhar a preparação da equipe de filmagem, sua empreitada no bosque de Burkittsville e sua descida ao inferno na noite do lugar. Tal estrutura em nada ajuda a continuação a oferecer novas perspectivas e abrir novas janelas para a franquia, assim como também não torna justificável a sua existência. Bruxa de Blair se apoia no found footage como linguagem, mas, diferente do longa de 1999 que, aprecie ou não o resultado final, conseguia incorporar a câmera como elemento cênico e acertava ao ser dominado por planos propositalmente improvisados, o diretor Adam Wingard dá muito polimento às imagens captadas, ou seja, todas as cenas recebem tratamento estético de primeira, algo estranho ainda que estejamos falando de uma outra época, marcada por tecnologias mais sofisticadas. Quem conseguiria realizar tais imagens em uma situação de perigo e pânico como aquela?
Dramaticamente, Bruxa de Blair se apoia na história da superação do trauma de um rapaz que perdeu a sua irmã e tenta realizar isso retornando ao lugar que provocou a sua dor. Como se não bastasse a fragilidade dessa premissa e o seu apego aos elementos que fizeram sucesso anteriormente, Bruxa de Blair ainda escancara tudo aquilo que o primeiro filme da franquia de terror fez questão de manter na zona do mistério, a fonte geradora de toda a violência que transforma a equipe de filmagem do documentário em vítima. Vendido como um filme que acena para novas possibilidades de uma antiga história, Bruxa de Blair soa mais como uma obra que tem muito apego ao projeto que o antecedeu e que não consegue lidar muito bem ou traduzir esse legado para as novas gerações.
Blair Witch, 2016. Dir.: Adam Wingard. Roteiro: Simon Barrett. Elenco: James Allen McCune, Callie Hernandez, Corbin Reid, Brandon Scott, Wes Robinson, Valorie Curry. Paris Filmes, 89 min.
Assista ao trailer do filme:
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