(Crítica) Atriz e personagem voltam triunfantes em 'O Bebê de Bridget Jones'


Renée Zellweger foi uma das atrizes mais disputadas de Hollywood no início dos anos 2000. O sucesso da texana como a jornalista inglesa Bridget Jones em O Diário de Bridget Jones a transformou em uma das figuras mais queridas e rentáveis da indústria e trouxe o início de uma duradoura relação da atriz com o Oscar através das suas indicações pelo primeiro Bridget Jones, Chicago e sua vitória como atriz coadjuvante em 2003 por Cold Mountain. No entanto, em 2010, após o tímido lançamento de Minha Canção de Amor, de Olivier Dahan, no qual a atriz interpreta uma cantora cadeirante, Zellweger simplesmente sumiu do radar. A atriz não frequentava os tapetes vermelhos, não teve seu nome vinculado a nenhum outro projeto e não havia registro dela em tablóides.

Em 2014, Zellweger volta a ser notícia, mas não por um retorno às telas e sim por um estranhamento que sua aparência causou em um evento da Elle Magazine. Público e veículos de fofoca tomaram como surpresa as consequências das interferências cirúrgicas no rosto da atriz quando muitos acompanharam essas transformações graduais ao longo da sua própria trajetória cinematográfica. Zellweger era transformada em "aberração" pelo mesmo maquinário que impunha um padrão de beleza e jovialidade inalcançável a parte das suas contemporâneas. A atriz passou a ser alvo de uma lógica de julgamento tão massacrante e perversa quanto a que se submetera na execução de tal transformação física. Elegantemente, a eterna Bridget Jones decretou: "Esse é o meu novo rosto, acostumem-se, foi assim que envelheci".

Esta Zellweger mais à vontade com sua própria aparência, segura da sua trajetória e consciente das derrapadas em nome da perfeição hollywoodiana, mas também sem se lamuriar muito por elas, está presente em cada frame de O Bebê de Bridget Jones, que retoma a carreira da atriz em grande estilo, ou seja, com sua mais icônica personagem. Distante do arremedo de Bridget Jones presente em Bridget Jones: No Limite da Razão, segundo filme da franquia, O Bebê de Bridget Jones traz a personagem de volta ao prumo ao priorizar o humor através do caráter humano da protagonista dos livros de Helen Fielding e não uma caricatura tosca da mesma como ocorria no longa de 2004.

A pausa de seis anos da atriz, taxada no auge da sua carreira como uma "careteira", fez muito bem a intérprete e ela traz um pouco dessa sobriedade a Bridget Jones. Em O Bebê de Bridget Jones vemos uma extensão da personagem de O Diário de Bridget Jones, a rainha da "vergonha alheia" na história do cinema. Aqui, Bridget surge madura, ou melhor, com menos neuras e se recusa, por exemplo, a ficar muito tempo na fossa ouvindo "All by myself" de Celine Dion. A personagem também parece mais à vontade com o seu jeito atabalhoado de ser, aceita mais as suas "falhas", ainda que algumas delas sigam incomodando a mesma, afinal, a vida amorosa de Bridget segue um caos.

Em O Bebê de Bridget Jones, Bridget está separada do advogado Mark Darcy (Colin Firth) e inicia o longa comemorando o seu aniversário sozinha. Solteira, a jornalista conhece um magnata das mídias sociais (Patrick Dempsey) e tem uma noite de amor com ele. O novo pretendente da personagem ganha fortunas com um site de relacionamento que visa promover encontros entre pares ideais. Nesse meio tempo, Jones reencontra Mark e os dois têm uma recaída. Acontece que Bridget descobre estar grávida e por ter se relacionado com ambos em um curtíssimo espaço de tempo não sabe qual deles é o pai do seu bebê.

O Bebê de Bridget Jones também marca o retorno da diretora Sharon Maguire, que dirigiu o primeiro filme da série cinematográfica. O Bebê de Bridget Jones investe no timing cômico de Renée, mas acerta ao situá-lo em uma dimensão humana, como fazia o longa de 2001. Zellweger está impagável ao lado de Colin Firth, perfeito como o retraído Mark Darcy, mas também é certeira ao apostar na intimidade que já tem com a personagem e todas as questões que a perseguem. O longa também ganha muito por não se apoiar  nos títulos anteriores da franquia, como têm feito alguns desses filmes que retomam sucessos do passado. Assim, o terceiro Bridget Jones evita repetições de cenas e gags, e investe em adições interessantes através de ótimos momentos com a médica interpretada por Emma Thompson (por sinal, co-autora do roteiro do filme), Patrick Dempsey e Sarah Solemani, que vive a âncora do jornal que Bridget produz. Os roteiristas também encontram uma acertada solução para a ausência de Hugh Grant na história e nem sentimos falta de Daniel Cleaver, ainda que ele seja um personagem tão marcante a franquia.

Com O Bebê de Bridget Jones, Renée Zellweger chegou a maturidade e põe a cara para bater sem pedir desculpas pelo passado, que, por sinal, é glorioso. A atriz resgata sua melhor criação em um filme que mostra porque Bridget é uma personagem capaz de gerar tanta empatia no público. É verdade que o longa poderia ter explorado melhor a maternidade e sua inserção em uma fase mais madura na vida da jornalista, mas é pedir demais de um filme tão divertido e que reposiciona tão bem sua protagonista em uma nova fase da vida. O Bebê de Bridget Jones é um reencontro com uma querida personagem e sua intérprete, algo que não suspeitava ser tão bom.


Bridget Jones's Baby, 2016. Dir.: Sharon Maguire. Roteiro: Helen Fielding, Dan Mazer e Emma Thompson. Elenco: Renée Zellweger, Colin Firth, Patrick Dempsey, Emma Thompson, Gemma Jones, Jim Broadbent, Sarah Solemani, Sally Phillips, Shirley Henderson. Universal, 123 min.  

Assista ao trailer do filme:

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Chovendo Sapos: (Crítica) Atriz e personagem voltam triunfantes em 'O Bebê de Bridget Jones'
(Crítica) Atriz e personagem voltam triunfantes em 'O Bebê de Bridget Jones'
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