Crianças costumam amar super-heróis, mas para os pais sempre foi difícil apresentar o universo desses personagens com super-habilidades sem esbarrar em conteúdos adultos inapropriados para menores, principalmente quando o personagem em questão é o Batman. Dustin Nguyen e Derek Fridolfs conceberam uma série de HQs transformando todo o universo de Gotham City e do Homem Morcego em histórias voltadas especificamente para os pequenos, ainda que, como efeito colateral, acabe arrebatando fãs do personagem da DC Comics de todas as idades. O trabalho em questão é Batman: Pequena Gotham. Lançada no Brasil pela Panini, a HQ é uma compilação das histórias de Nguyen e Fridolfs que foram publicadas em edições de Batman, Justice League Beyond e Batman - Arkham City, séries correntes do personagem distribuídas nas bancas, livrarias e lojas especializadas.
Com arte do próprio Nguyen, Pequena Gotham é um mimo e funciona muito bem para públicos de diversas idades. As histórias são mais leves que as corriqueiras HQs do Batman. É como se Bruce Wayne fosse interpretado por um Maurício de Souza ou um Carl Barks (criador do Tio Patinhas) da vida. São tramas curtas, a maioria localizadas em datas comemorativas do nosso calendário corrente como Dia dos Namorados, Halloween, Páscoa, Natal etc. Ao mesmo tempo que Nguyen e Fridolfs conseguem trazer leveza e ludicidade a personagens dramaticamente carregados como o próprio Bruce Wayne ou o Coringa, por exemplo, eles preservam as características desses ícones, tornando eficiente os anseios do projeto de apresentar as figuras clássicas a públicos mais novos. É um trabalho que adapta o universo para o público infantil, um nicho bem específico com uma série de delicadas demandas a serem atendidas, sem desnaturar o espírito dos seus personagens, o que acaba mantendo o interesse do leitor adulto pelo material.
O destaque de todas as histórias é Damian. Filho de Batman e novo Robin há algum tempo nas tramas da DC, Damian funciona como o fio condutor do tom e das tramas de Pequena Gotham. É o personagem que se adaptou melhor à proposta e orienta todas as histórias da série. Há tramas pontuais como aquela em que o Coringa é submetido aos efeitos de algumas das plantas da Hera Venenosa e, de repente, todas as vilãs da cidade sentem-se atraídas por ele; àquela em que a Mulher-Gato tenta se manter na linha, mas é seduzida pelas travessuras da dupla Arlequina e Hera; ou ainda o melancólico e incompreendido Mr. Freeze e sua tragédia pessoal com a esposa Nora, tudo tratado com um humor inocente e leve. Nguyen e Fridolfs conseguem encontrar um equilíbrio entre a descontração e o afeto/reverência ao material original que faz de Pequena Gotham um verdadeiro achado. Tudo é ainda mais amplificado pelo primoroso traço dos desenhos de Dustin Nguyen numa arte que flerta abertamente com o rabisco infantil, trazendo identidade e ainda mais ternura ao material.
Batman: Li'l Gotham, 2014. Roteiro: Dustin Nguyen e Derek Fridolfs. Arte: Dustin Nguyen. Panini Comics, 132 p.
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