Em Florence: Que é essa Mulher?, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (07), o público brasileiro terá a oportunidade de conferir mais um desempenho da talentosa Meryl Streep. Desta vez, Meryl dá vida à cantora de ópera mais desafinada que já se teve notícia: Florence Foster Jenkins. Encarando o desafio de interpretar uma personagem que não tem a menor habilidade no canto sendo que a atriz é conhecida por já ter soltado a voz (e muito bem) em diversos momentos da sua filmografia, Streep colhe diversos elogios da crítica e se vê, novamente, como alvo da máxima: Meryl pode fazer qualquer coisa!. É mais ou menos aquilo que Cameron, personagem de Eric Stonestreet, disse uma vez sobre a atriz em um episódio do seriado Modern Family, no qual ele fazia uma defesa apaixonada dos seus esforços em Mamma Mia!,
"Meryl Streep pode interpretar o Batman e ser uma escolha certa para o papel. Ela é a perfeição." Tucker, Cameron.
Pensando nisso, resolvemos enumerar os papéis na carreira de Streep que comprovam a teoria. Todos são provas da variedade de personagens que compõem a cartela de trabalhos da atriz em mais de quarenta anos de carreira.
A mulher "comum"
Personagem: Clarissa Vaughan
Filme: As Horas (2002)
Interpretar uma bruxa (Caminhos da Floresta), uma matriarca autodestrutiva (Álbum de Família) ou uma alegre chef de cozinha (Julie e Julia) é fácil, difícil mesmo é dar vida a uma mulher "comum" com angústias e problemas cotidianos. Isso Streep fez em As Horas, filme pelo qual viu suas colegas de elenco Nicole Kidman e Julianne Moore serem indicadas ao Oscar, mas pelo qual não recebeu uma nomeação sequer. No longa de Stephen Daldry (que todos estão carecas de saber, mas, vale sempre lembrar, é um dos xodós do Chovendo Sapos), Streep interpreta uma editora de livros cuja vida aparentemente feliz é abalada pelas provocações de um de seus mais queridos amigos às vésperas de uma confraternização organizada pela mesma. Aparentemente, Clarissa não tem do que se queixar: tem uma filha carinhosa, é bem-sucedida na sua carreira, tem um relacionamento amoroso bem resolvido com sua companheira Sally... Com todo esse entorno, Clarissa deveria entender que está no auge da sua felicidade. No entanto, ao chegar à conclusão de que esse momento não existe, a personagem entra em parafuso.
A heroína romântica
Personagem: Francesca Johnson
Filme: As Pontes de Madison (1995)
Em um dos longas mais ternos da carreira de Clint Eastwood, o diretor adapta a obra de Robert James Waller e eterniza um dos romances mais cortantes já feitos para as telonas ao lado de Meryl Streep, As Pontes de Madison. No filme, Streep vive a solitária dona de casa Francesca Johnson, uma imigrante italiana casada que se apaixona pelo aventureiro fotógrafo Robert Kincaid, vivido por Eastwood. As Pontes de Madison é um romance com inclinação para o clássico, no estilo do que Eastwood sabe fazer melhor, e traz Streep impecável como a protagonista desta história de amor, com direito a momentos de fechar a glote do espectador através de uma personagem que assume decisões difíceis e põe em risco a sua própria felicidade.
A sobrevivente do Holocausto
Personagem: Sofia Zawistowski
Filme: A Escolha de Sofia (1982)
No primeiro Oscar de melhor atriz da sua carreira (antes, ela havia vencido como atriz coadjuvante por Kramer vs. Kramer), Streep encara uma personagem que vive os mais trágicos efeitos que uma guerra já pôde legar. Em A Escolha de Sofia, de Alan J. Pakula, a atriz dá vida a uma imigrante polonesa enredada em um triângulo amoroso, mas que guarda dentro de si as cicatrizes do que vivera em um campo de concentração nazista durante a Segunda Guerra. Provavelmente, A Escolha de Sofia traz o desempenho mais dilacerante da carreira da atriz e exigiu de Streep uma carga emocional fora do comum, além de fluentes polonês e alemão, que, por sinal, são idiomas impecavelmente usados por ela no filme. No filme, se o passado de Sofia a submeteu a um dos maiores dramas que qualquer ser humano pode vivenciar, o seu presente não consegue apagar essas marcas e é a este purgatório que a personagem é condenada.
Bitch fashionista
Personagem: Miranda Priestly
Filme: O Diabo veste Prada (2006)
Responsável por apresentar Streep às novas gerações e transformá-la em um dos raros casos de estrela de cinema veterana rentável, O Diabo veste Prada marcou sua época e faz parte da cultura pop. Parte deste legado pode ser creditado na conta de Meryl Streep, que interpreta a exigente editora de uma revista de moda Miranda Priestly. Acontece que Streep soube transformar esta "vilã" em muito mais do que as linhas do seu roteiro sugeriam, conferindo camadas interessantes a Miranda. Priestly não é só a bitch que inferniza a vida de Anne Hathaway no filme. Nas mãos de Streep, a editora é símbolo do empoderamento feminino e traz com discussão o fantasioso personagem que muitas vezes se constrói em torno de mulheres que ocupam cargos de chefia. Streep trouxe humanidade e aproximou as plateias de uma personagem que poderia ser empobrecida nas mãos de uma atriz com menos recursos ou repertório.
Rainha das ilhas gregas (e do Abba)
Personagem: Donna Sheridan
Mamma Mia! (2008)
Provavelmente um dos filmes mais divisivos na carreira de Streep, Mamma Mia! é, para uns, pura diversão, para outros, um guilty pleasure e, para muitos, simplesmente insuportável. Seja qual for o lado que você escolha nesta "batalha cinéfila" travada de tempos em tempos, não podemos negar que la Streep segura dignamente as pontas de um filme hiperbólico por natureza como a "deboísta" matriarca Donna Sheridan. Pagando seus "micos" (e entenda isso para o bem ou para o mal), Streep leva aquela personagem com dignidade e doçura e se esbalda loucamente ao som de Abba nas ilhas gregas. De "Dancing Queen", "Mamma Mia" a "The Winner Takes It All", a premiada atriz interpreta o repertório do Abba com o comprometimento de quem faz um Shakespeare e a felicidade de uma criança que entra pela primeira vez no Magic Kingdom da Disney. Contagiante.
Assista ao trailer do próximo filme da atriz, Florence: Quem é essa Mulher?:
COMENTÁRIOS