Mais recente empreitada de Julie Delpy como diretora e roteirista, Lolo, o filho da minha namorada é, aparentemente, uma comédia simples e sem maiores ambições sobre uma produtora de moda cuja relação amorosa com um homem provinciano é sabotada pelos planos diabólicos do seu próprio filho, um jovem e pretensioso artista plástico chamado Eloi, cujo apelido de infância é Lolo. No centro dessa rivalidade masculina entre Dany Boon, intérprete do pretendente da protagonista, e Vincent Lacoste, que dá vida ao rebento do título, está Delpy, que além de diretora e roteirista vive a protagonista da história. Se a princípio o filme parece ao espectador um longa divertido em suas gags e situações familiares, com o tempo, as coisas não ficam tão engraçadas assim já que a plateia vai conhecendo mais a fundo a natureza do Lolo do título e percebe que o rapaz não tem redenção alguma e suas ações beiram a vilania sem freios. Assim, em certos momentos, a comédia perde a sua graça dado o nível de perversidade do personagem de Lacoste.
Lolo, o filho da minha namorada poderia ser um filme que taxaríamos como levemente "bobo", mas se transforma em uma comédia de riso nervoso e de completo estranhamento. Ao longo de uma hora e meia de projeção, o longa é marcado pelos planos diabólicos concebidos pela mente doentia de Eloi para separar a mãe do seu pretendente a padrasto em um clássico modelo de comédia de situação. Delpy aproveita o ensejo para tratar das fortes relações entre mães e filhos, do complexo de Édipo e da geração "estragada" pelo excesso de zelo personificada no repugnante Lolo. Acontece que a própria interpretação de Vincent Lacoste acaba transformando o jovem no foco de interesse do longa e tornando-o uma figura pesada, sombria e esquisita entre personagens tão solares e afetuosos como a Violette de Delpy e o pobre do Jean-René, interpretado na medida certa por Dany Boon. Perverso, narcisista e beirando a psicopatia, Lolo não consegue ter a simpatia do público em momento algum, tornando todas as cenas pretensamente cômicas do filme em momentos de profundo incomodo tamanha a frieza e inconsequência do rapaz em seus atos. É uma pena que Delpy não vá mais a fundo nas discussões que giram em torno desse personagem, o que o transformaria em uma figura mais complexa e faria com que essa estranheza ao longo de todo o filme se diluísse.
Lolo, 2015. Dir.: Julie Delpy. Roteiro: Julie Delpy e Eugénie Grandval. Elenco: Julie Delpy, Dany Boon, Vincent Lacoste, Karin Viard, Antoine Lounguine, Christophe Vandevelde, Elise Larnicol, Christophe Canard, Rudy Milstein. Mares Filmes, 97 min.
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