Difícil entender as razões que levaram o diretor Jon Watts (escolhido para fazer Homem-Aranha: Homecoming, próximo título com o icônico personagem da Marvel) a fazer um filme sobre um corretor de imóveis, pai de família, possuído por uma indumentária de palhaço ser algo tão sisudo, mas ele o fez. Clown é o longa em questão. Trata-se de um trabalho do realizador anterior ao conhecido e elogiado A Viatura, de 2015, e que somente em 2016 chega ao público brasileiro através do Netflix. No filme de terror, como brevemente antecipado, o protagonista é possuído por uma entidade maligna através de uma vestimenta amaldiçoada de palhaço que acaba encontrando em uma das casas que pretendia vender. Ele usa a roupa para uma festa de aniversário do filho, mas não consegue arrancá-la do seu corpo, tampouco a maquiagem e a "peruca", transformando-se em uma criatura diabólica que se alimenta de criancinhas.
A premissa absurda é abordada por Watts em tom de seriedade, o que torna o filme de terror do diretor uma narrativa completamente aborrecida para o espectador, cujo principal desafio é manter-se fiel ao longa em sua uma hora e quarenta minutos de duração. A abordagem mais sisuda da história poderia até dar certo, caso o roteiro escrito pelo diretor e por Christopher Ford (também na mesma função em A Viatura) se preocupasse com um tratamento psicológico mais apurado do seu protagonista ou envolvesse o espectador no relacionamento do seu núcleo familiar central, para logo em seguida gerar uma situação de completa angústia e temor pelo destino desses personagens devastados pelos efeitos da entidade clown, mas não é o que acontece. De cara, somos apresentados à situação de possessão e o realizador e seu filme parecem pouco se importar com os indivíduos que estão presos àquela manifestação na história: o corretor Kent, sua mulher Meg e o filho do casal Jack. Já que os roteiristas optaram por uma abordagem mais direta, o melhor seria que o realizador conduzisse seu filme como uma grande piada de si mesmo e não como uma tragédia que jamais é sentida pelo espectador, apesar de ser reforçada por seus personagens centrais. Nem mesmo as ricas oportunidades de se trabalhar com o imaginário criado em torno da figura do palhaço como um protagonista dos pesadelos infantis são exploradas pelo longa. Descartando a metalinguagem e não acolhendo a contento a tragédia familiar, Watts perde uma ótima oportunidade para fazer de Clown um filme vibrante dentro do seu próprio gênero.
Clown, 2014. Dir.: Jon Watts. Roteiro: Christopher Ford e Jon Watts. Elenco: Andy Powers, Laura Allen, Peter Stormare, Christian Distefano, Chuk Shamata, Elizabete Whitmere, Victor Cornfoot, Lucas Kelly, Emily Burley, Matthew Stefiuk, Michael Riendeau. Netflix, 100 min.
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