Os meses de março e abril foram sintomáticos do que acredito estar ocorrendo criativamente com a indústria cinematográfica. Se de um lado vivemos o ápice da popularidade dos "filmes de super-heróis", por outro, criativamente, os títulos comerciais que mais têm demonstrado vigor criativo são os longas de terror em produções pequenas de orçamento reduzido e dotadas de um acentuado rigor estético e narrativo. Dito isso, o veredito é que as produções mais modestas do terror se saíram melhor nos meses em que estrearam duas das mais aguardadas produções do ano, Batman vs. Superman - A Origem da Justiça e Capitão América - Guerra Civil, particularmente, ambos decepcionantes - um mais que o outro, não posso negar - pois se de um lado presenciamos a completa falta de domínio narrativo de Zack Snyder com os heróis da DC Comics, por outro assistimos a "mais do mesmo" com o mais novo exemplar do projeto Vingadores da Marvel.
A Bruxa , vencedor do prêmio de direção no Festival de Sundance em 2015, ganha destaque no período pela sua excelência como peça audiovisual, mostrando, na tradição de ótimos filmes do gênero no cinema atual que mais importante do que a produção aleatória de sustos, essas histórias são sempre mais assustadoras e ricas de significado quando se preocupam com a construção de uma atmosfera eficiente. Logo em seguida, o destaque é Boa Noite, Mamãe, longa austríaco de 2014 do casal de diretores Veronika Franz e Severin Fiala e que só chegou no Brasil nesse primeiro semestre de 2016. Ao narrar a história dos gêmeos Elias e Lukas e sua relação paranoica com sua progenitora, o longa segue a tradição de uma lista de filmes do gênero com finais surpreendentes.
Incluímos também nesse ranking parcial a animação da Disney Zootopia, que honrou uma interessante leva de títulos no formato ao agradar crianças com uma história que jamais subestima a percepção e a sensibilidade dos pequenos, mas que expõe também maturidade ao abordar temáticas sociais espinhosas. Do lado das histórias edificantes, fomos surpreendidos por Amor por Direito, drama de Peter Sollett com Julianne Moore e Ellen Page no elenco. Apesar das críticas ruins, do seu formato de "filme de Supercine" e das suas falhas formais, o longa tem uma inegável força social e triunfa pela sensível interpretação da sua dupla de protagonistas. Encerrando a lista, o interessante thriller Decisão de Risco, que redime o cineasta sul-africano Gavin Hood de X-Men Origens - Wolverine ao trazer para o público um longa eficiente pela sobriedade e equilíbrio na exposição do seu posicionamento sobre as políticas de segurança das grandes potências mundiais. Merecia ter sido mais visto, inclusive.
Os melhores...
# 01. A Bruxa
# 02. Boa Noite, Mamãe
# 03. Zootopia
# 04. Amor por Direito
# 05. Decisão de Risco
Entre as piores produções desses meses, não poderíamos passar em branco a decepcionante continuação do sensível O Tigre e o Dragão, de Ang Lee, intitulada O Tigre e o Dragão - A Espada do Destino, de Woo-Ping Yuen, produzida pela Netflix em parceria com a The Weinstein Company e que estreou no Brasil pelo mesmo serviço de streaming. Protagonizado por Michelle Yeoh, que vive a mesma personagem do longa de 2000, a continuação faz o impensável: substitui a poesia das artes marciais da obra de Ang Lee por uma história sem vida e um amontoado de sequências em CGI. Por sua vez, foi um período do ano em que presenciamos um esperado desgaste da saga Divergente com A Série Divergente - Convergente, um claro sinal da "enrolação" dos seus envolvidos em pôr fim a algo que já nasceu como uma genérica de distopia adolescente desde o seu primeiro filme.
Outras continuações protagonizam a inglória lista de piores dos dois últimos meses: Casamento Grego 2, que parece ter esquecido toda a discrição e o tratamento humano dos personagens que deu o tom do filme de 2002; e O Caçador e a Rainha do Gelo, que por não decidir entre ser um prequel ou uma continuação apaga todo o legado (irrisório, é verdade) do seu antecessor e desperdiça um elenco talentoso em uma história que apenas vislumbra-se um esforça de coerência e relevância. Encerrando a lista, o drama que rendeu uma indicação ao Globo de Ouro para o ator Will Smith, Um Homem entre Gigantes, título que tem lá a sua relevância como denúncia de fatos graves sobre os bastidores do futebol americano, mas que peca pela sua sonolenta e previsível execução.
Os piores...
# 01. O Tigre e o Dragão - A Espada do Destino
# 02. A Série Divergente - Convergente
# 03. Casamento Grego 2
# 04. O Caçador e a Rainha do Gelo
# 05. Um Homem entre Gigantes
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