A diretora australiana Jocelyn Moorhouse, de Terras Perdidas e Colcha de Retalhos, adapta esse livro de Rosalie Ham em um filme que tem um resultado no mínimo "esquisito". Contando a história de uma estilista que após anos afastada da sua cidade natal no interior da Austrália retorna para pôr em prática um plano de vingança contra aqueles que a acusaram de um terrível ato quando ainda era criança, A Vingança está na Moda é dois filmes em um, sendo que uma das empreitadas de Moorhouse é mais bem sucedida do que a outra. A diretora parece ter dois pontos de vista para a abordagem da história, um completamente distinto do outro no tom e no êxito dos esforços da realizadora. Em determinados momentos, A Vingança está na Moda flerta com o western ao realçar os efeitos da chegada de Myrtle Dunnage nessa comunidade rural e o impacto que suas roupas causam nas mulheres e nos homens dessa pequena cidade. Quando opta por esse caminho, Moorhouse conduz sua história com um humor de cores fortes que torna o longa uma experiência interessante ao espectador, na medida em que consegue encontrar um olhar inusitado para a já banal narrativa do protagonista que retorna bem-sucedido a sua cidade de infância em busca de vingança. No entanto, quando A Vingança está na Moda opta por um tom mais sério, o filme, apesar de trazer para o público mais uma vez um demonstrativo do potencial dramático da atriz Kate Winslet na condução de personagens com passado traumático, derrapa drasticamente, não só por oferecer soluções esquemáticas para o desenlace da sua trama principal, mas principalmente por não conseguir tornar essas duas perspectivas para uma mesma história harmônicas, fluidas e benéficas quando o filme requer a junção de ambas. Quando a realizadora funde o seu filme de humor escrachado e referência inesperada (um western cômico sobre a alta costura na Austrália dos anos de 1950) com o forte e urgente drama da sua protagonista, que fica ainda mais severo na medida em que a trama chega ao seu terceiro ato, o longa não é convincente em sua proposta e oferece um desfecho nada satisfatório. Já que existia uma dificuldade na junção entre esses dois tons completamente distintos de A Vingança está na Moda era preferível seguir por apenas um deles. Isoladamente, a versão pastelão da história de Myrtle Dunnage renderia um filme melhor do que drama trágico da personagem.
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