(Crítica) X-Men: Apocalipse


X-Men - Apocalypse, 2016. Dir.: Bryan Singer. Roteiro: Simon Kinberg. Elenco: James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Oscar Isaac, Nicholas Hoult, Sophie Turner, Tye Sheridan, Rose Byrne, Evan Peters, Kodi Smit-McPhee Lucas Till, Ben Hardy, Alexandra Shipp, Olivia Munn, Josh Helman, Lana Condor. Fox, 144 min. 


Adaptar os X-Men para o cinema nunca foi uma tarefa das mais fáceis e, até então, o diretor Bryan Singer, mesmo angariando críticas mais severas ao seu trabalho por uma parte dos fãs dos personagens nos quadrinhos, havia conseguido trafegar com maestria no complexo universo dos mutantes liderados pelo Professor Xavier. Fazendo naturais e necessárias concessões ao material original, Singer foi responsável pelos melhores títulos de toda a franquia (X-Men - O Filme, X-Men 2 e X-Men - Dias de um Futuro Esquecido) e conseguiu dar o tom das histórias dos mutantes nas telonas, entendendo que uma das principais forças desses personagens da Marvel não reside nas cenas grandiosas de batalha e nas suas ações heróicas, mas sim nos seus conflitos com suas próprias identidades, proporcionando reflexões interessantes sobre questões sociais como o preconceito. A maneira como Singer transpôs o universo mutante e costurou as histórias dos X-Men, entendendo-os como personagens muito mais ricos e capazes de gerar empatia com o público em suas ações e dinâmicas mais íntimas tornou todos os longas dirigidos pelo cineasta para a franquia exitosos e trouxe reflexos até mesmo em X-Men - Primeira Classe, longa que inaugurou uma nova fase para os personagens e que, apesar de não ter sido realizado por Singer, também possui muitos méritos e sabe se apropriar bem do legado do cineasta inaugural da saga. 

Assim, não deixa de ser curioso  perceber que o mesmo realizador por trás dos melhores longas da franquia X-Men seja responsável por aquele que é o seu longa mais frágil, X-Men - Apocalipse, título que encerra esse novo ciclo iniciado com X-Men - Primeira Classe em 2011. O que é mais grave ainda no caso de X-Men - Apocalipse é notar que  uma das falhas do longa está na parcial desatenção que o cineasta confere ao que os seus títulos anteriores tinham de melhor, o desenvolvimento dos seus personagens e a economia no escopo das suas sequências de ação. Em X-Men - Apocalipse, a humanidade e os jovens mutantes orientados pelo Professor Xavier são surpreendidos com o aparecimento de Apocalipse, considerado o primeiro mutante do mundo e que, assim como fez em outros tempos, começa a angariar um grupo de seguidores que junto com ele pretendem instituir uma nova era marcada pela extinção dos humanos. 

O novo longa dos X-Men tem um início bastante promissor, explorando com muita habilidade e leveza os elementos que tornaram as histórias dos personagens no cinema populares. O público acompanha um prólogo do vilão Apocalipse (muito bem executado, por sinal), mas o foco da primeira hora do filme é na dinâmica dos jovens mutantes, realizando uma ótima introdução às versões reboots (se levarmos em consideração que Dias de um Futuro Esquecido reescreveu o futuro dos personagens e, consequentemente, o passado de alguns deles) de Jean Grey e Ciclope, que ganham muito com a presença dos promissores Tye Sheridan e Sophie Turner. O filme também consegue, mais uma vez, construir um novo e dramático enredo para Magneto, mesmo que parte de todo o seu conflito não ganhe um enlace satisfatório no último ato, e ainda contorna de maneira interessante àquele que se tornou um inesperado problema para franquia, o apelo do star power de Jennifer Lawrence. Através de ganchos criados a partir de eventos do filme anterior, Singer consegue encontrar uma solução interessante para justificar o fato de que, na maioria das cenas, Lawrence não surge com a real aparência da Mística (a versão "azul em pêlo") mas sim com a imagem de apelo popular da própria atriz. O diretor faz isso sem prejudicar o desenvolvimento da própria Mística ao longo da trama, que continua coerente, inclusive, no seu próprio conflito de identidade e nas suas motivações, confirmando a habilidade do cineasta na construção dos seus personagens e na condução de uma perspectiva mais intimista para esse universo. 

O grande problema de X-Men - Apocalipse está na última hora do filme, quando o vilão Apocalipse começa a se tornar uma presença importante e necessária para a movimentação da trama e o filme ganha um tom de "filme catástrofe". X-Men - Apocalipse tem uma grandiloquência e um apelo na ação que poucos filmes dos X-Men conduzidos por Bryan Singer possuíam - nem mesmo X-Men - Dias de um Futuro Esquecido, que trazia uma trama pós-apocalíptica com a viagem no tempo tinha um teor tão inflado quanto esse aqui. É notório para o espectador, por exemplo, que o longa começa a ter uma sensível queda de ritmo e coerência quando a sua trama tem que se preocupar obrigatoriamente com eventos mais grandiosos. Quando X-Men - Apocalipse tem sua ação restrita aos corredores da escola de mutantes de Xavier, Singer consegue mostrar habilidade, conservando sua preocupação com as dinâmicas e os conflitos desses personagens. A partir do momento que o longa passa a requerer do realizador o espetáculo, o diretor não consegue oferecê-lo e toda a grande sequência de batalha entre os X-Men e os cavaleiros do Apocalipse é confusa e tecnicamente precária. Não que Singer não saiba conduzir espetáculos de ação, tanto que fazia isso muito bem nos demais longas da franquia que dirigiu, porém X-Men - Apocalipse requer demandas e esforços mais grandiloquentes que o diretor não consegue suprir. 

O segundo grande tropeço de X-Men - Apocalipse é com a construção do próprio vilão, o Apocalipse -  e considerando que toda a trama desse filme é movimentada por ele, esse é um grave problema. Em momento algum, o ator Oscar Isaac, que já deu provas do seu talento em trabalhos como Inside Llewyn Davis ou O Ano mais Violento, e a equipe de figurinos, maquiagem e efeitos técnicos do longa conseguem tornar sua presença de fato ameaçadora. Ao longo do filme, fala-se muito do Apocalipse como uma grande ameaça, o personagem toma atitudes que suscitam um clima caótico e de risco crescente e existe uma série de recursos que estão à serviço da construção desse personagem como o mais forte adversário já enfrentado pelos X-Men e pela humanidade, mas o tratamento dado ao vilão é falho. Isso não ocorre porque o vilão é um personagem ruim, até porque ele traz discussões que inicialmente parecem promissoras à fita (como a doutrinação religiosa, já que desde os tempos antigos ele sempre é tratado como uma espécie de divindade), mas porque a maneira como ele é construído em seus diversos aspectos é completamente falha. O público é solenemente indiferente à figura do Apocalipse ao longo de toda a projeção porque o vilão é uma presença apática, indiscernível e que jamais faz jus a sua fama. Tudo isso vira um grande "elefante branco" para a fita, sobretudo quando a própria história passa a requerer cada vez mais a presença desse personagem. 

Conseguindo ser mais problemático do que aquele que, para alguns, é um dos capítulos mais frágeis da história dos X-Men nos cinemas, X-Men - O Confronto Final, de 2006, dirigido por Brett Ratner, X-Men -Apocalipse é um encerramento infeliz para esse atual ciclo dos personagens. Bryan Singer tropeça em um filme da franquia que acaba exigindo do diretor recursos e abordagens que, até o momento, não tinham sido exigidos dele e que não parecem ser o seu forte. O longa tem um início promissor que explora muito bem o que fora a zona de conforto do realizador ao longo de toda a sua caminhada na saga mutante, o olhar quase que intimista para o drama de jovens que descobrem suas habilidades especiais, mas torna-se um filme trôpego quando assume a grandiloquência de um espetáculo de ação e quando passa a depender de um vilão mal construído. X-Men - Apocalipse pode não ser desastroso, mas está muito aquém do que já foi feito sobre os mutantes nos cinemas, sobretudo se levarmos em consideração que leva a assinatura de Bryan Singer.



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Chovendo Sapos: (Crítica) X-Men: Apocalipse
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