Desprestigiado por alguns, mas inegavelmente um dos nichos de produção mais lucrativos do nosso país, as comédias populares podem render, por vezes, títulos de gosto e abordagem duvidosos. O que não dá para ser feito é culpabilizar um determinado gênero cinematográfico por aquilo que possa ser encarado como eventuais problemas mercadológicos e criativos do setor. Não que Uma Loucura de Mulher seja um exemplar que vá honrar esse tipo de produção com a oferta para o público de um filme cheio de virtudes. Em diversos aspectos, o longa de estreia de Marcus Ligocki Jr. repete uma série dos deslizes corriqueiros desse nicho de produção em nosso país, entre eles, talvez o mais grave seja achar que fazer comédia é oferecer a trama mais inofensiva e criativamente superficial que pode, flertando ainda com recursos dramáticos mais do que batidos para o gênero. No entanto, o filme não é dos exemplares mais desastrosos que já foram realizados pela safra recente de comédias e consegue gerar o mínimo interesse que seja do seu espectador graças a presença de uma atriz do calibre e com o carisma de Mariana Ximenes na pele da sua protagonista.
Uma Loucura de Mulher traz a história de Lúcia (Ximenes), esposa de um candidato ao governo do Distrito Federal que abandona o marido após ser traída pelo mesmo em virtude de interesses políticos. A personagem então retorna ao bairro onde fora criada no Rio de Janeiro e passa a morar no apartamento que fora do seu falecido pai e que atualmente encontra-se vinculado a um processo ainda pendente de inventário. Chegando ao local, ela reencontra um amor de adolescência (Sérgio Guizé) e torna-se amiga da sua vizinha (Guida Vianna), que manteve durante anos um caso extraconjugal com o seu pai. Quando tudo parece estável na vida de Lúcia e ela começa a descobrir novas possibilidades e experiências, o seu esposo retorna com uma proposta de reconciliação que fará a personagem oscilar entre o desejo de voltar ao conforto da sua antiga vida ou recomeçar uma nova história.
Como estrutura, Uma Loucura de Mulher é protocolar, seguindo um esquemático quadro de personagens, situações e conflitos que vemos à exaustão em qualquer comédia romântica: temos a decepção de Lúcia com o marido, um completo calhorda que, mais tarde, revela-se uma patética marionete nas mãos dos seus aliados políticos; os coadjuvantes cômicos que vão desde a vizinha "excêntrica" da protagonista ao seu porteiro; a tensão sexual e as questões pendentes (e não ditas) entre Lúcia e o seu antigo namorado, interpretado por Sérgio Guizé, que representa aqui o galã romântico ausente de maior profundidade na composição de sua personalidade, como acontece na maior parte das produções do gênero. O filme apresenta esses personagens esquemáticos em situações mais do que previsíveis e não há maiores surpresas nesse sentido, portanto não espere grandes subversões em cima dos seus próprios protocolos narrativos. Há um leve comentário a respeito das manobras dos políticos do nosso país, o que torna o personagem de Bruno Garcia um dos mais interessantes do filme, mas também não chega a ser uma crítica realizada em profundidade pela comédia.
Mesmo oferecendo situações batidas para o espectador, é preciso deixar claro que todo esse teor narrativamente burocrático e subserviente às regras do gênero não tornam Uma Loucura de Mulher um filme execrável. Se estabelecermos um comparativo entre a obra e outros títulos desse nicho de produção que andam sendo realizados por aqui, o longa sai-se melhor do que a maioria deles. Trata-se, claro, de uma comédia que não tem maiores ambições e que também ocasiona grandes escorregadas formais, existe uma ou outra implausibilidade e um certo teor efêmero da sua própria narrativa. O espectador estando ciente disso e aceitando os termos desse "pacto" proposto pela obra , a experiência pode resultar um passatempo inofensivo que ganha seu diferencial graças a presença de uma estrela do peso de Mariana Ximenes, que consegue tornar qualquer filme minimamente agradável somente pela força da sua presença em um único frame.
Uma Loucura de Mulher, 2016. Dir.: Marcus Ligocki Jr.. Roteiro: Marcus Ligocki Jr., Angelica Lopes e Kirsten Carthew. Elenco: Mariana Ximenes, Sérgio Guizé, Bruno Garcia, Miá Mello, Augusto Madeira, Guida Vianna, Zéu Britto, Luis Carlos Miéle. Imagem Filmes, 100 min.
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