O thriller político Decisão de Risco pertence à boa safra de filmes sobre os conflitos entre o ocidente e o oriente após os eventos do 11 de setembro. Conduzido com muito ritmo pelo sul-africano Gavin Hood, que cometeu longas como X-Men Origens - Wolverine e Ender's Game - O Jogo do Exterminador, mas ainda detém um certo prestígio por seu trabalho em Infância Roubada, o filme oferece ao seu público um suspense equilibrado com um olhar interessante para as medidas anti-terroristas tomadas pelo governo norte-americano e suas reverberações, sem parecer sisudo ou partidário em seu ponto de vista, ponderando prós e contras sobre as ações dos seus protagonistas.
Em Decisão de Risco, o público acompanha um grupo de militares que, localizados em lugares distintos no globo, orquestram uma ação preventiva contra um potencial atentado terrorista planejado em Nairobi. Ao longo da empreitada, o grupo, composto por oficiais veteranos e novatos, vai percebendo que não será tão fácil tomar as decisões que acabam tendo que tomar, levantando questionamentos de ordem jurídica, geopolítica e ética.
No longa, Hood conta com um elenco repleto de grandes atores. Dos medalhões ingleses Helen Mirren e Alan Rickman ao premiado Aaron Paul, astro da série Breaking Bad, e o indicado ao Oscar por Capitão Phillips, o somale Barkhad Abdi, o diretor tem a seu favor um grupo de artistas que dá toda credibilidade às ações e sentimentos externados pelos seus personagens. Contudo, Decisão de Risco não é um "filme de atores", o mérito pelo êxito da obra deve recair nos ombros de Gavin Hood, que mesmo tendo em mãos uma trama repleta de sequências in doors, ou seja, a maior parte das ações ocorrem basicamente em ambientes fechados, consegue construir um filme extremamente ágil.
Além disso, Hood conta com o ótimo roteiro de Guy Hibbert que consegue ser perspicaz em discussões tão complexas e espinhosas a respeito da política anti-terror sem parecer enfadonho ou didático demais. Hibbert e Hood conseguem ainda trazer para a história um tratamento humano para que em momento algum soa manipulatório ou piegas. Tudo é construído com muita fluidez, precisão e sensibilidade pelos realizadores, fazendo com que o público tenha uma dimensão emocional sobre os reflexos das atitudes tomadas pelo ponto de vista dos militares e dos quenianos do filme de maneira igualmente respeitosa e coerente.
Enredado pelas armadilhas que os grandes estúdios podem representar para diretores estrangeiros, Gavin Hood finalmente se redime em Decisão de Risco, um thriller político que consegue entreter sua audiência de maneira inteligente e sensível e que apresenta uma trama ágil sobre questões que já são batidas no cinema contemporâneo, mas que talvez sejam tratadas com pouca responsabilidade e equilíbrio, algo que existe em abundância nesse filme. Os méritos são do seu diretor e do seu roteiristas que tiveram uma precisão cirúrgica na costura da sua trama e no olhar que reservaram para os personagens que a protagonizam.
Eye in the Sky, 2016. Dir.: Gavin Hood. Roteiro: Guy Hibbert. Elenco: Helen Mirren, Aaron Paul, Alan Rickman, Barkhad Abdi, Phoebe Fox, Jeremy Northam, Monica Dolan, Iain Glen, Jessica Jones. Paris Filmes, 102 min.
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