Longa de animação adulto, Anomalisa é, acima de tudo, um filme maduro sobre a presença do amor e sua importância em uma sociedade cada vez mais marcada pelas relações frias mantidas por comodidade ou sobrevivência. Dirigido e roteirizado por Charlie Kaufman (mesmo roteirista de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, Adaptação e Quero ser John Malkovich), sendo que aqui ele assume a primeira função ao lado de Duke Johnson, Anomalisa tem a mesma natureza "estranha" de sonho transformado em bucólica "realidade" dos trabalhos anteriores do realizador. Tudo assume o tom, a textura e a ambiência de uma realidade banal e monótona, mas tem o seu grau de estranheza, de "fantástico" pontualmente revelado para a plateia. Na trama, acompanhamos um palestrante motivacional na voz de David Thewlis, que durante sua entediante estadia em um hotel do Connecticut acaba conhecendo uma moça chamada Lisa Hesselman, dublada por Jennifer Jason Leigh, por quem se apaixona. O longa é delicado e trata com muita humanidade e honestidade as relações humanas em um contexto crível sendo essencialmente uma história de amor muito "pé no chão", sem muito floreios ou fantasias a respeito da concretização amorosa frente o cotidiano e os pactos sociais apresentados como os grandes obstáculos para a realização amorosa. Bucólico, mas extremamente sensível, Anomalisa é um filme singelo que não cumpre categorizações cinematográficas, justifica-se no encontro entre o seu formato (a animação stop motion) e o propósito de sua história e impõe-se como um conto comovente sobre o amor frente ao cotidiano.
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