Há muito se fala sobre um certo engessamento do cinema nacional em dois modelos cinematográficos opostos: de um lado, os filmes de apelo popular e narrativa frouxa co-produzidos pela Globo Filmes e do outro lado o cinema autoral dos festivais e do restrito público das salas de arte. Volta e meia determinados títulos fogem desses extremos e chegam aos cinemas impondo-se como obras intermediárias. Tratam-se de títulos que não perdem de vista o intuito de alcançar as grandes plateias, mas também fincam as suas bases em consistentes e aplicadas propostas cinematográficas. Reza a Lenda é um desses filmes. Com uma proposta de cinema pop com ambiência nordestina, o filme de Homero Olivetto tem várias referências e se apropria de interessantes recursos narrativos para contar a história de um grupo de motoqueiros à espera do milagre dos céus que tire sua terra da seca e da injustiça. Com inspirações que vão do western hollywoodiano ao Mad Max de George Miller, Olivetto constroi um filme com ótimas intenções que resultam em momentos isoladamente inspirados, ainda que quando chegue no seu clímax a trama não consiga dar conta da sua verve frenética como deveria, oferecendo um terceiro ato pouco vibrante. O que interessa, no entanto, é que o realizador oferece uma alternativa interessante para a nossa cinematografia que dialoga com públicos dos mais diversos repertórios, sobretudo as gerações mais novas, com um entretenimento que, na maior parte da projeção, é repleto de frescor, instigando e seduzindo as plateias (no bom sentido do termo). Com um elenco equilibrado e repleto de jovens talentos como Cauã Reymond, Sophie Charlotte, Luisa Arraes e Jesuita Barbosa (todos muito bem, por sinal), o maior destaque entre os atores vai para Humberto Martins, delicioso como o vilão desse bang bang on the road nordestino. Apesar do resultado oscilar sobretudo em seu desfecho (e entendendo que é de tentativas e iniciativas que chegamos lá), a gente deveria torcer para que mais filmes como Reza a Lenda fossem feitos no país. É um frescor para a nossa cinematografia, independente do resultado.
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