A difusão (distribuição e exibição) sempre foi um dos grandes problemas de se fazer cinema no Brasil. De uma maneira geral, a produção brasileira conta com instrumentos relativamente eficientes de viabilização de produção, mas como fazer com que esses longas realizados cheguem até o seu público, fazendo com que eles tragam algum retorno para os profissionais que participaram de sua concepção, instituindo enfim uma indústria profissionalizada e com condições de mercado igualitárias para todos em nosso país, sempre foi um grande "abacaxi" nunca de fato descascado. Entrando numa Roubada trata no final das contas de tudo isso: quem realmente sai financeiramente beneficiado no cinema brasileiro? A metalinguagem "tarantinesca" de André Moraes traz a história de um jovem ator e roteirista que após cair em desgraça na sua carreira tem a chance de retornar ao cinema quando seu novo roteiro recebe um prêmio em dinheiro. Para torná-lo um filme, o rapaz reúne antigos companheiros de set, que, como ele, não conseguiram se realizar profissionalmente. Tudo foge ao controle do jovem roteirista quando um de seus amigos resolve usar o filme como um meio de se vingar do produtor que levou todos ao fundo do poço. Entrando numa Roubada é o típico caso de uma excelente ideia que rende uma execução atabalhoada. O filme poderia investir mais em seu humor corrosivo, mas fica estranhamente sério, sombrio. Moraes conta com um ótimo elenco - Deborah Secco, Lucio Mauro Filho, Júlio Andrade, Bruno Torres, Marcos Veras, Ana Carolina Machado e o impagável Tonico Pereira -, todos prontos para se esbaldarem em cena, mas o diretor parece retrair o seu próprio filme. Em Entrando numa Roubada alguma coisa parece não fazer o projeto ir para a direção das decisões extremas, o que faria muito bem ao filme. O longa tem um excelente ponto de partida, mas um resultado não tão corajoso quanto a sua ideia central. Falta punch.
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