Há cerca de dez anos atrás não se ouvia falar de outro nome em Hollywood que o do diretor e roteirista Paul Haggis. Ele havia acabado de receber uma indicação ao Oscar pelo roteiro adaptado de Menina de Ouro, de Clint Eastwood, e surpreenderia na edição seguinte do prêmio ganhando as estatuetas de melhor filme e melhor roteiro original pelo drama Crash - No Limite, que ele mesmo dirigiu. A vitória do último foi questionável, sobretudo pela competição acirrada nos bolões com O Segredo de Brokeback Mountain. Diziam, na ocasião, que a popularidade dos filmes do realizador poderia ser atribuída aos seus roteiros, marcados por histórias simples, emocionalmente engajadas, mas repletas de reviravoltas surpreendentes. Haggis estava no topo do mundo, tanto que a primeira providência dos produtores da franquia 007 foi chamá-lo para escrever os roteiros de Cassino Royale e Quantum of Solace. Qualquer filme que tivesse a participação de Haggis na ocasião, traria o seu nome em destaque nas campanhas de divulgação tal qual o de seus diretores.
Dez anos depois do Oscar de Crash e de arrefecida a badalação em torno do realizador, Paul Haggis retorna para o público com Terceira Pessoa, um filme mosaico do jeito que o diretor e roteirista gosta. Contudo, o resultado é constrangedor se levarmos em consideração que este filme tem a assinatura de Haggis, um realizador que causou tanta comoção anos atrás e tem tantos prêmios em casa. Terceira Pessoa não só é um dos filmes mais desastrosos da sua carreira, como também um atestado do que não deve ser feito no roteiro e na direção de qualquer longa-metragem.
O filme é ambientado em três cidades diferentes, Paris, Roma e Nova York, e acompanha desenlaces amorosos de três núcleos. O primeiro é aquele protagonizado por um escritor e a sua jovem musa. O segundo traz um americano e uma italiana envolvida com um criminoso que a chantageia. O último traz uma camareira de hotel que acaba de perder a guarda do filho para o ex-marido, um jovem artista plástico. As três histórias pressupõem uma conexão que nunca surge no filme. No máximo, o que Haggis faz é justificar a ligação das tramas com temas generalizantes como o "amor" ou então estabelecer vínculos entre os núcleos através das personagens-coringas de Maria Bello e Kim Basinger, totalmente desperdiçadas na história. Nem mesmo a montagem serve para manter a liga entre as tramas e fornecer ao espectador alguma explicação para a junção das três em um mesmo filme, pelo contrário, a sensação que ela dá é que o montador está indo em um sentido oposto ao do diretor.
Como o constrangimento não é pouco em Terceira Pessoa, o filme presta uma atenção especial ao núcleo do escritor e da sua musa (personagens de Liam Neeson e Olivia Wilde). A história entre eles é sugerida como o elo, a grande razão de ser do filme. Não querendo estragar a experiência do leitor, aviso de antemão que determinados spoilers podem ser oferecidos mais adiante. Haggis trata com muita suavidade e naturalidade a falta de ética, para não dizer canalhice, do personagem de Neeson. O realizador expõe o retrato de um homem que se aproveita da vida dos outros usando como escudo a sua "arte", como se esta, por si só, justificasse os seus atos. Não justifica, sr. Haggis, lamento informar.
O filme é ambientado em três cidades diferentes, Paris, Roma e Nova York, e acompanha desenlaces amorosos de três núcleos. O primeiro é aquele protagonizado por um escritor e a sua jovem musa. O segundo traz um americano e uma italiana envolvida com um criminoso que a chantageia. O último traz uma camareira de hotel que acaba de perder a guarda do filho para o ex-marido, um jovem artista plástico. As três histórias pressupõem uma conexão que nunca surge no filme. No máximo, o que Haggis faz é justificar a ligação das tramas com temas generalizantes como o "amor" ou então estabelecer vínculos entre os núcleos através das personagens-coringas de Maria Bello e Kim Basinger, totalmente desperdiçadas na história. Nem mesmo a montagem serve para manter a liga entre as tramas e fornecer ao espectador alguma explicação para a junção das três em um mesmo filme, pelo contrário, a sensação que ela dá é que o montador está indo em um sentido oposto ao do diretor.
Como o constrangimento não é pouco em Terceira Pessoa, o filme presta uma atenção especial ao núcleo do escritor e da sua musa (personagens de Liam Neeson e Olivia Wilde). A história entre eles é sugerida como o elo, a grande razão de ser do filme. Não querendo estragar a experiência do leitor, aviso de antemão que determinados spoilers podem ser oferecidos mais adiante. Haggis trata com muita suavidade e naturalidade a falta de ética, para não dizer canalhice, do personagem de Neeson. O realizador expõe o retrato de um homem que se aproveita da vida dos outros usando como escudo a sua "arte", como se esta, por si só, justificasse os seus atos. Não justifica, sr. Haggis, lamento informar.
Haggis desperdiça atores do calibre de Liam Neeson e Adrien Brody, e até mesmo jovens estrelas que se bem aproveitadas oferecem boas interpretações (James Franco, Mila Kunis, Olivia Wilde), com cenas grosseiras e personagens que agem de maneira estúpida. A impressão que fica é que Haggis está dirigindo e roteirizando um longa-metragem pela primeira vez pois Terceira Pessoa tem um roteiro ilógico e uma direção preguiçosa, que em nada nos remete aos seus filmes anteriores. Assim, Terceira Pessoa acaba colocando em cheque o próprio talento de Paul Haggis. Das duas uma, ou todos foram iludidos por um furor de momento ou Haggis estava em um dia muito, mas muito ruim quando concebeu Terceira Pessoa.
Third Person, 2014. Dir.: Paul Haggis. Roteiro: Paul Haggis. Elenco: Liam Neeson, Olivia Wilde, Mila Kunis, Adrien Brody, James Franco, Moran Atias, Maria Bello, Kim Basinger, Riccardo Scamarcio, Loan Chabanol, Oliver Crouch. Playarte. 137 min.
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