François Ozon sempre me pareceu o mais hollywoodiano dos franceses. O diretor flerta com as tramas mastigadas, o melodrama e até mesmo com a grandiloquência dos dramas americanos. Em alguns casos, isso não chega a ser um problema, pelo contrário, geram filmes bem interessantes. Em outras situações, esta marca do diretor resulta em filmes deslocados, cuja proposta não condiz com o formato dado pelo realizador. É um pouco o caso de Uma Nova Amiga. O filme tem contornos "almodovarianos" ao contar a história de uma jovem que perde sua melhor amiga e se compromete a, dali em diante, ajudar o marido e a filha dela. Com o passar do tempo, a protagonista descobre que o viúvo tem o hábito de vestir roupas femininas e assumir a identidade de mulher. Ele lhe pede segredo e os dois passam a trocar confidências. O filme de Ozon é baseado em um romance homônimo de Ruth Rendell que, curiosamente já foi adaptado para os cinemas pelas mãos de Pedro Almodóvar. O que François Ozon faz com Uma Nova Amiga é transformá-lo em um filme sem tom definido, oscilando entre o melodrama, a comédia ou o suspense, deixando o espectador sem uma chave de leitura precisa para a sua história, o que, nesse caso, ao mesmo tempo que expande a autonomia do público e a sua gerência sobre as possíveis interpretações da história, traz como contrapartida uma dificuldade de imersão e entendimento sobre os objetivos da trama. O filme tem como mérito a maneira complexa e respeitosa com que trata temas como identidade de gênero e a orientação sexual ao construir com delicadeza a trajetória de seus dois personagens principais, Claire e David/Virgina, interpretados com muita sensibilidade e sem afetações por Anäis Demoustier e Romain Duris, respectivamente.
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