Tratar de Mapas para as Estrelas em um parágrafo será um desafio. O recente filme do cineasta canadense David Cronenberg possui tantas camadas de leituras e é tão rico em suas representações que qualquer interpretação primeira do longa evidencia uma certa precipitação. Expondo para o espectador várias tramas em paralelo, todas elas ambientadas em Los Angeles, Cronenberg traz como centro da sua história a vinda de Agatha, papel de Mia Wasikowska, à cidade. Cruzam o caminho da moça uma atriz decadente que tenta retornar ao estrelato através do remake de um filme protagonizado por sua mãe no passado; um garoto prodígio da televisão, seu pai, um guru de celebridades, e sua mãe, administradora da sua carreira e censora das suas inconsequências fora dos sets; e um motorista de limusine aspirante a ator e roteirista. No elenco do filme, as interpretações de Julianne Moore como Havana Segrand e o garoto Evan Bird saltam os olhos, mas Mia Wasikowska, John Cusack, Robert Pattinson e Olivia Williams têm grandes momentos ao longo da trama. Escrito por Bruce Wagner, Mapas para as Estrelas, nas mãos de David Cronenberg, ganha o tom de um delírio obsessivo. O filme afasta-se do mimético, do mundo real, e é dominado em seu modus operandi pelo psicótico universo interno dos personagens que dão a atual Hollywood sua verdadeira faceta, a egolatria dosada pela presença de fantasmas: o medo que todos aqueles que fazem parte deste ambiente têm da juventude, da sucessão, de não fazer jus ao legado dos seus antepassados etc. Fica evidente que o longa não é sobre Hollywood, o cenário só é usado pela natural propensão a esta cultura psicótica do "eu" que ele evoca, mas que contamina a sociedade contemporânea e fomenta determinadas neuroses de maneira generalizada. É assustador, patético, melancólico. Fica muito bem dado o recado.
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