Se a transformação da figura do vampiro Edward ou do lobisomem Jacob em sonho de realização amorosa de muitas fãs de Crepúsculo já se apresentava como algo particularmente preocupante, a obsessão de jovens com o Sr. Grey de Cinquenta Tons de Cinza atinge patamares clínicos. Assim como aconteceu com Crepúsculo, Cinquenta Tons de Cinza não pode se esconder no "argumento" da má adaptação, existem características nele que em nada tem a ver com a passagem da história para as telas, mas com a construção dos seus personagens, suas relações e o que elas representam de fato. Difícil definir o que é mais incômodo se o perdão conferido ao machismo e à natureza doentia do seu protagonista masculino através de demonstrações pontuais de afeto, que nada mais são do que a comprovação de que o moço não regula nada bem da cabeça, ou se a submissão da Anastasia ao tipo de vida que ele lhe impõe e a ingenuidade de acreditar que pode transformá-lo (sim, é com esse tipo de pensamento que algumas mulheres aceitam os maus tratos e grosserias dos seus maridos, namorados etc.). Os equívocos são outros também, desde os diálogos artificiais ao motivo encontrado pela autora para Grey e Anastasia terem o seu primeiro encontro e se apaixonarem até a escalação de Jamie Dornan (inexpressivo) para viver o protagonista e as mãos atadas da diretora Sam Taylor-Johnson que nada pôde fazer para incrementar o filme, já que este era obviamente um projeto de estúdio. De lembrança mesmo só fica a promessa de Dakota Johnson, que em momentos pontuais consegue conferir algum interesse do espectador nessa história bizarra untada por uma psicologia barata.
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