Depois da Chuva mostra um Brasil específico, aquele do início da década de 1980 marcado pela saída da ditadura militar e a abertura gradativa da democracia política no país. Transcendendo o regime de expectativas gerados sobre si mesmo, Depois da Chuva acaba oferecendo ao espectador mais do que um filme político ainda que seja uma expressão clara de engajamento e posicionamento social. O longa de Cláudio Marques e Marília Hughes é um olhar delicado sobre o doloroso processo de transição pelo qual todos passam na adolescência para se tornar adulto, uma fase na qual precisamos ponderar o que vale a pena preservar dos sonhos e utopias para encarar uma realidade que sufoca qualquer subjetividade em rotinas e discursos previamente agendados. Assim acompanhamos um momento na vida de Caio, vivido pelo jovem Pedro Maia, um adolescente naturalmente contestador e entediado com a oratória alienante dos seus professores, a subserviência dos seus colegas de classe e a palidez da rotina como filho de uma casa completamente apolítica. O filme é marcado pelo punk rock, um elemento interessante para dar vazão aos picos emocionais do seu protagonista e, apesar de ser contextualizado em um momento específico do país, é uma história de apelo universal. Marques e Hughes trazem um olhar vibrante e instintivamente rebelde para a fita, o que é ótimo para compreendermos em seu âmago o momento conturbado da vida de Caio. Depois da Chuva é um filme com um posicionamento político declarado e inconformado com a alienação e hipocrisia em qualquer tempo, mas não é uma crítica social expressa através de uma voz e um olhar imaturo, pelo contrário, é o olhar de quem já passou pelo turbilhão do despertar político e conseguiu preservar o melhor que a juventude pode nos dar, o interesse pela vida e pela mudança.
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