O que mais se tem discutido nos últimos anos são as relações entre o homem e as tecnologias. De que maneira a internet e a possibilidade de se comunicar em qualquer lugar do mundo graças às facilidades de manuseio e transporte dos aparelhos alteraram as relações no ambiente real? Aumentaram as tensões entre pais e filhos? Até que ponto o controle do uso desses meios ou a completa liberdade são positivos? De cara, diria que o cerne da questão não está na tecnologia. Ela amplifica os problemas, talvez, mas quão frágil é este ser humano que se deixa levar e usa todas estas facilidades com propósitos nada positivos? É o mesmo quadro de sujeitos que buscam refúgio nas drogas como uma forma de suprir suas carências ou evitar as dores do mundo real. Ela, de Spike Jonze, deixa bem claro, o problema não está na tecnologia, está no homem que deixou de lado o contato com... o outro homem.
Homens, Mulheres e Filhos traz um mosaico de personagens inseridos nesse novo contexto, o das relações intermediadas pelos novos meios, pela internet, redes sociais, enfim, por esta "excessiva conectividade". A ideia do filme é entender como este cenário transformou ou acentuou o descompasso das relações pessoais. De certa forma, Jason Reitman até consegue trilhar esse caminho em Homens, Mulheres e Filhos, mas escorrega na simplificação da construção dos seus personagens. Explico, para mostrar o lado bom e o lado ruim da intermediação ou interferência do uso da tecnologia nas relações pessoais, o realizador constrói, ingenuamente, personagens unidimensionais que representam extremos, como é o caso da mãe hiperliberal, a excelente Judy Greer, que expõe fotos da sua filha com roupas íntimas como forma de fisgar interessados em alavancar a carreira midiática da garota, ou a mãe supercontroladora, interpretada por Jennifer Garner, que tem acesso ao Facebook e e-mail da sua filha e acompanha a localização dela, da escola até a casa, através de um aplicativo. Ou seja, não há sutilezas e para sustentar as suas defesas e conclusões, Reitman apela para o mais fácil, o menos arriscado: os extremos.
O diretor continua elegante na condução de sua história, fazendo uma espécie de Beleza Americana dos novos tempos ao tentar construir esta crônica de famílias da classe média norte-americana e suas ranhuras imperceptíveis em uma análise superficial. No entanto, é visível que Homens, Mulheres e Filhos é um projeto que exigiria um cineasta mais problematizador, um realizador que virasse suas tramas e personagens pelo avesso e não caísse nas conclusões óbvias que corriqueiramente são extraídas dos temas que a história sugere como: "as pessoas estão mais distantes umas das outras", "nem tão liberal, nem tão controlador, a melhor política na educação dos filhos é o meio termo" etc.
Há desempenhos honestos ao longo da fita, como é o caso de Judy Greer, já citada, que vai percebendo aos poucos a que ponto a sua permissividade moldou o caráter da filha, ou Adam Sandler (impecável), sempre interessante quando procura se levar a sério como ator. No mais, não há muito o que se desenvolver em termos de composição de personagens com um roteiro que, como já dito, tem suas limitações. Há o charme da narração de Emma Thompson e a eficiência do diretor, mas a história merecia mais apuro.
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