Para apreciar cada fibra pulsante de Sin City é preciso
reforçar duas referências essenciais do projeto: a) trata-se de uma
franquia que incorpora literalmente a linguagem das HQs para o cinema;
b) HQs que, por sua vez, se categorizam como neo-noir, revitalizando um dos gêneros mais interessantes de Hollywood que traz em sua composição histórias narradas em off
por detetives durões e mulheres sensuais de caráter ambíguo ou
extremamente frágeis, tendo como cenário os becos sujos de uma grande
cidade dominada por chefes do crime.
Robert Rodriguez e Frank Miller retornam a cidade do pecado em Sin City 2 – A Dama Fatal.
Como no primeiro filme, a tramaé dividida em três segmentos, porém,
diferente do longa anterior, as tramas se encontram de alguma maneira.
Dwight (Clive Owen foi substituído por Josh Brolin) está às voltas com
os problemas de Ava (Eva Green), um antigo amor que confidencia ser
agredida pelo marido milionário. A segunda trama é protagonizada por
Johnny (Joseph Gordon-Levitt) um jovem impetuoso que acaba de chegar a
Sin City e desafia o Senador Roark (Powers Boothe) em um jogo de sorte. A
terceira história acompanha a perda da inocência da stripper Nancy
(Jessica Alba) após a morte do seu protetor Hartigan (Bruce Willis).
Todas esses segmentos são “flanados” por Marv (Mickey Rourke), cujo
papel na trama é discreto, mas determinante em todas elas.
De Sin City – A Cidade do Pecado a Sin City 2 - A Dama Fatal
pouquíssimo foi alterado. Rodriguez e Miller permaneceram fiéis a sua
proposta inicial. Contudo, esse segundo capítulo (e provavelmente o
último, dado o seu fracasso retumbante nas bilheterias americanas, o que
é uma pena) tem seus méritos próprios. Sin City – A Cidade do Pecado praticamente
inaugurou uma linguagem emulada dos quadrinhos, sem a qual não teríamos
Zack Snyder, cria imediata dessa “escola” com 300 e Watchmen. O êxito de Rodriguez e Miller em Sin City 2 advém
da manutenção das suas bases, dentro de um cenário no qual sua proposta
já foi repetida à exaustão. Eles acertam em cheio porque esse
“quadrinho em movimento” talvez só funcione mesmo no universo de Sin City.
Em A Dama Fatal, figuras como Mickey Rourke, Powers Boothe e
Rosario Dawson se sentem à vontade ao retornar com seus respectivos
personagens. E se perdemos figuras como Clive Owen, Benicio del Toro e
Bruce Willis (sim, porque aqui ele só surge como um fantasma), por outro
lado ganhamos Joseph Gordon-Levitt e, claro, a talentosíssima e linda
Eva Green. Por sinal, mais do que acertada a escolha de Rodriguez e
Miller pela atriz para viver a personagem título da continuação. Os
realizadores batalharam durante anos para ter Angelina Jolie na pele de
Ava mas, os fãs da Sra. Pitt que me desculpem, não existe atriz no
cinema atual que convença mais o público do seu sex appeal ao segurar uma arma de fogo e trajar apenas um hobby transparente do que Eva Green.
Divertido e coerente, Sin City 2 – A Dama Fatal confirma que a
franquia é uma das maiores realizações de Robert Rodriguez no cinema.
Com um elenco e dois diretores que aproveitam cada “brinquedo” desse
parque de diversões e nos oferecem a experiência do espírito do cinema noir com altas doses de “hqísmos”, o longa compensa o espectador a cada segundo da sua projeção.
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