Uma das principais sensações dos festivais de Sundance e Cannes no
ano passado (ambos ocorrem no primeiro semestre de cada ano), Amor Fora da Lei só
chega aos cinemas brasileiros agora – e ainda teve sorte de chegar nos
cinemas, já que a maioria desses títulos sempre correm o risco de irem
direto para DVD ou Blu-Ray. No fundo, como narrativa, o longa de David
Lowery é uma cria de Sundance mesmo, apresentando todos os tiques que
ficaram notórios no cinema “independente” norte-americano: a montagem e
os diálogos entrecortados, os finais abruptos e inconclusivos e por ai
vai. Junto a esses fatores, Amor Fora da Lei acaba sendo um western com
alusões ao cinema de Terrence Malick, sobretudo em sua fotografia. A
soma desses elementos traz ao filme alguns acertos, mas também erros que
o transformam em uma obra amarrada e artificial em sua abordagem.
Com o título original Ain’t them bodies saints (e mais uma
vez as distribuidoras nos fazem o favor de dar títulos nacionais
vergonhosos e que nada condizem com a proposta do filme), Amor Fora da Lei
traz a história do jovem casal Bob e Ruth. Eles se envolvem em uma ação
criminosa e Ruth acaba atirando em um policial. Bob assume a culpa por
Ruth e fica preso por um bom tempo, tempo o suficiente para não conhecer
a sua filha Sylvia. Após 5 anos, Bob foge da prisão e parte em uma
jornada para reencontrar sua família.
Lowery faz de Amor Fora da Lei um western contemporâneo,
toda a atmosfera do longa denuncia isso. A trilha sonora, as
caracterizações dos personagens e suas dinâmicas nos dão pistas desse
flerte aberto do diretor com o gênero. Contudo, um dos elementos
principais do western faltam a Amor Fora da Lei,
ritmo, e não é por não seguir essa norma do gênero que o filme derrapa,
mas simplesmente porque sua abordagem contemplativa, com diálogos
entrecortados e apreço a uma fotografia “natural” faz do longa uma
história que se arrasta no seu tempo de projeção, cansando o seu
espectador em seus silêncios e nas suas conclusões subentendidas. A
sensação que fica é de que o realizador quer conferir valor a sua obra
através de um gramática pretensiosa, “superior” a capacidade cognitiva
do espectador, mas que no fundo revela-se pouco profunda. E, como sabem,
o tropeço não está nessa pouca profundidade da história, mas por ela se
apresentar como complexa e metafórica quando, nas suas entranhas,
oferece muito pouco nesse sentido.
O trio de atores do longa, por sua vez, compensam esses equívocos,
apesar de terem um material questionável em sua densidade nas mãos para
trabalhar. A dupla central Rooney Mara e Casey Affleck conferem
credibilidade a seus personagens e Ben Foster, na pele de um policial
que se aproxima de Ruth, está soberbo como sempre. No mais, como já
dito, Amor Fora da Lei sofre com suas repetições, pretensões e
seu ritmo “devagar quase parando”, o que, no seu caso, é fatal para a
experiência cinematográfica em si.
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