Ao ter seu sangue contaminado por um alienígena em campo de batalha,
Bill Cage (Tom Cruise) desenvolve a estranha habilidade de reiniciar o
seu dia a cada momento em que morre. Aos poucos, Cage, com a ajuda da
habilidosa oficial Rita Vrataski (Emily Blunt), conecta o evento a uma
possível solução para a interminável batalha entre humanos e alienígenas
desde que essas criaturas passaram a dominar a Terra. Sim, esta é mais
uma ficção-científica com Tom Cruise, e por mais que tenhamos um diretor
relativamente interessante no comando, sabemos que existe o dedo do
ator em cada decisão tomada no projeto. E não, não esperem por nada
extraordinário que fuja da banalidade em No Limite do Amanhã. É uma fita escapista relativamente divertida no esquema que o ator costuma estabelecer em suas recentes produções.
O diretor por trás de No Limite do Amanhã é Doug Liman, realizador irregular que tem no seu currículo produções competentes como A Identidade Bourne, o primeiro da série, e o drama político, pouco conhecido, infelizmente, Jogo de Poder, com Naomi Watts e Sean Penn. Por outro lado, Liman foi responsável por Sr. e Sra. Smith, filme que só ficou para a história por unir Brad Pitt e Angelina Jolie na profissão e no matrimônio, e por Jumper,
aquele filme sobre jovens super-dotados que se teletransportam
protagonizado por Hayden Christensen, enfim, o tipo de projeto que todo
diretor que ter seu nome desvinculado para todo o sempre. Portanto,
Liman é muito mais um executor tomando decisões lineares e previsíveis
que algumas vezes salvam o projeto, mas por outras vezes o detona, já
que não consegue neutralizar falhas visíveis de roteiro, por exemplo.
Dito isso, No Limite do Amanhã está mais para o primeiro
grupo de filmes de Doug Liman, ainda que seja bem inferior aos outros
dois títulos mencionados. O filme revela-se como uma ficção-científica
pouco pretensiosa que entretém na medida certa e sabe até onde deve ir,
evitando criar uma trama complexa demais que não será capaz de sustentar
mais adiante. Como nos demais exemplares da carreira de Liman, o filme
não é nenhum espetáculo técnico ou artístico (a exceção da ótima
sequência na qual Cruise e alguns soldados descem de um helicóptero e
caem em uma praia para uma batalha, semelhante a cena de abertura de O Resgate do Soldado Ryan),
e era isso mesmo que os seus envolvidos pretendiam, evitar os riscos.
Cruise, Liman e a Warner queriam fazer uma fita quadradinha e correta em
seus propósitos e conseguiram.
É interessante notar que, pela primeira vez em anos, vemos Tom Cruise
interpretar um sujeito deslocado em um ambiente que exige dele uma
grande habilidade física. Aqui, o ator vive um assessor de imprensa das
Forças Armadas obrigado a se juntar ao grupo de militares. E ainda que
um ator mais jovem e que inspirasse o mínimo de credibilidade em seu
amadorismo e insegurança naquela situação fosse o ideal, Cruise dá conta
do recado, afinal, esse tipo de produção é sua zona de conforto. Quem
surpreende a plateia mesmo é Emily Blunt, muito interessante em um papel
que não costuma ser ofertado a ela. Blunt vive com muita naturalidade
essa heroína de ação sem perder a feminilidade e o lado humano da
personagem. Uma escolha inusitada, mas assumida com muita confiança e
talento pela atriz.
No Limite do Amanhã é exatamente aquilo que se esperava
dele. Um filme de ficção-científica e de ação protagonizado por Tom
Cruise que mostra-se como um exemplar correto do gênero nas mãos de um
dos últimos atores de Hollywood que conseguem se sustentar nos moldes
antigos de produção (aquele que tem o ator no centro do seu processo
criativo e empresarial). Particularmente, preferia ver Cruise se
arriscar mais, sair dessa zona de conforto representada por filmes como Oblivion e No Limite do Amanhã, que são bons, mas nada mais que isso. Quem sabe um dia o ator de Nascido em 4 de Julho, Magnólia e Jerry Maguire desperte
desse estado de calmaria longo e profundo em que se encontra há
bastante tempo e nos surpreenda? A gente torce para isso.
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