Com tantas tarefas diárias, realizar-se amorosamente tornou-se uma tarefa hercúlea. Adicionando esse componente relativamente novo à constatação de que o ser humano sempre reage mal às frustrações amorosas, o resultado não pode ser nada bom. No lugar de seguir em frente, o indivíduo remói durante um bom tempo desilusões amorosas, se isola com medo da rejeição, das brigas, da incompatibilidade de gênios, da decepção... E o que seria dos relacionamentos humanos sem esses riscos? Não seriam relacionamentos. Em Ela, Spike Jonze traz um cenário em que Theodore, personagem vivido brilhantemente por um adorável Joaquin Phoenix (sim, ao nome do ator foi adicionado o adjetivo "adorável" sem a menor ironia), deposita todas as suas emoções em um Sistema Operacional chamado Samantha, por "quem" acaba se apaixonando. Theodore prefere relacionar-se com ela do que com qualquer outra mulher de carne e osso. Sente-se seguro em sua companhia e ela corresponde a todas as suas expectativas em um relacionamento: é inteligente, agradável, sexy e por ai vai. A virada na trama ocorre quando Theodore passa a questionar a natureza dessa relação e sua própria postura diante da vida. Doce, delicado e muito perspicaz e comovente em seus caminhos, esse novo longa de Spike Jonze comprova que existe sim um cinema com brilho e sensibilidade no cenário industrial do cinema norte americano.
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