Crítica: Azul é a Cor mais Quente


É de se estranhar que ainda em 2013 as pessoas se escandalizem tanto com o sexo ou não tenham a mínima maturidade para entender que ele faz parte da vida. Em parte, Azul é a Cor mais Quente parece assumir essa função, a de tentar "educar" o espectador nesse departamento, o que é, de certa forma, incômodo. No entanto, o lado mais interessante do longa que venceu a última edição do Festival de Cannes, é outro, o da história de amor. O ponto de vista presente em Azul é a Cor mais Quente que mais interessa e o torna de certa maneira especial é o suave percurso que ele faz no encontro entre as suas jovens protagonistas, Adèle e Emma.
 
Toda a perspectiva de Azul é a Cor mais Quente é de Adèle, personagem defendida com maturidade ímpar pela jovem Adèle Exarchopoulos. O longa acompanha a Adèle da sua adolescência ao início da fase adulta. Nessa breve "biografia", Adèle conhece Emma, uma estudante de Belas Artes, que a faz ter, pela primeira vez, interesse por alguém do mesmo sexo. Adèle e Emma passam a viver uma intensa história de amor com seus percalços, alguns deles relacionados com a própria identidade sexual das personagens, mas definitiva na vida de ambas.
 
O maior mérito de Azul é a Cor mais Quente, como já dito, é levantar uma única bandeira, a do amor. Sem soar cafona, é sobre esse sentimento que o filme lança um olhar. Inevitavelmente, a produção acaba levantando uma outra bandeira, a da diversidade sexual. Podemos supor que com intuito de causar um certo abalo nas convicções das plateias mais rígidas, o filme intercala a trajetória de Adèle com longas e, as vezes, explícitas, cenas de sexo entre as personagens. Ainda que a apresentação destas tenham questionáveis propósitos dramáticos, não deixa de ser louvável o mérito do diretor Abdellatif Kechiche nas suas conduções.
 
O desempenho de Adèle Exarchopoulos é fundamental para o êxito do filme. Azul é a Cor mais Quente é uma história sobre o amadurecimento, sobre o amadurecimento da nossa relação com o amor, e Exarchopoulos traça com delicadeza o desabrochar de uma mulher durante as quase três horas de duração da fita. Acompanhamos sua personagem,Adèle em vários estágios, das dúvidas sobre seus próprios desejos, ao encantamento por Emma, até o desespero com a iminência de perdê-la. A entrega de Exarchopoulos é visceral e a jovem atriz é extremamente expressiva, revelando muito das angústias internas da sua personagens com gestos, expressões e impostações de voz pontuais, mas tudo muito espontâneo, entregue, sem maiores cálculos Adèle, a atriz e não a personagem, se entrega ao momento, à dinâmica da própria cena. Em contrapartida, Léa Seydoux é precisa, quase matemática na composição de Emma, uma jovem descolada, de espírito livre e alerta aos sinais mais sutis dos que estão ao seu redor. Dois desempenhos igualmente excepcionais e complementares por suas diferenças.
 
Azul é a Cor mais Quente tem propósitos e resultados bem mais singelos do que a sua própria publicidade sugere. Se o escândalo e a subversão que alguns veículos tanto prenunciaram a respeito do filme vem da exibição de fortes cenas de sexo entre suas protagonistas, não há sentido algum para qualquer adjetivação hiperlativa. É custoso entender como as pessoas ainda reagem com tamanha agitação e receio sobre o sexo, algo que faz parte da nossa condição humana, mas surge sempre como um grande e embaraçoso silêncio ou em meio aos gritos e exclamações das reações hipócritas. O filme é uma simples e delicada história sobre o rito de passagem pela perspectiva da relação amorosa com desempenhos formidáveis de suas atrizes principais. É isso, louvável, simples.

 
 
Blue is the Warmest Color, 2013. Dir.: Abdellatif Kechiche. Roteiro: Abdellatif Kechiche. Elenco: Adèle Exarchopoulos, Léa Seydoux, Salim Kechiouche, Aurélien Recoing, Catherine Salée, Benjamin Siksou, Mona Walravens. 179 min. Imovision.

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Chovendo Sapos: Crítica: Azul é a Cor mais Quente
Crítica: Azul é a Cor mais Quente
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