Há muitos anos que digo por aqui que a Globo Filmes desgasta o circuito comercial com um filão que é produzido como água: as comédias. A maioria delas ruins não por serem comédias, mas por serem mal feitas, a toque de caixa. Filmes como A Coleção Invisível, como tantos outros dramas, são feitos, mas a duras penas na pré-produção, pós-produção e tem uma dificuldade enorme para encontrar o seu público cativo. O longa de Bernard Attal, conduzido com muita sensibilidade e domínio da linguagem cinematográfica, é ambientado na Bahia e traz como protagonista Beto, um jovem que perde seu grupo de amigos em um acidente de automóvel. Ele passa a ter uma convivência mais frequente com a mãe e toma para si o negócio da família, um antiquário. Beto começa, então, a se envolver com a procura das obras de um artista pernambucano que foram compradas anos atrás por um fazendeiro. Ele viaja para o interior da Bahia para procurar esse homem e as obras em questão. A Coleção Invisível é um filme sobre o resgate de uma identidade através das reconexões do seu personagem com o passado de sua família e das suas relações com o mundo, com o que está ao seu redor, uma "rehumanização". Retratando a transformação de Beto ao longo da projeção, Vladimir Brichta tem um trabalho exemplar nesse longa. Comedido e minucioso em aspectos singelos da construção do seu personagem, o ator conquista a plateia mesmo que o filme opte pelo caminho da sugestão e não da exposição exacerbada de argumentos e situações passadas. O elenco de coadjuvantes é primoroso, passando pela impecável participação de Walmor Chagas, a última antes de sua morte, as de Clarisse Abujamra e Ludmila Rosa, esposa e filha do personagem de Chagas respectivamente, e o menino Wesley Macedo, uma revelação.
A Coleção Invisível, 2013. Dir.: Bernard Attal. Roteiro: Bernard Attal, Sérgio Machado e Iziane Mascarenhas. Elenco: Vladimir Brichta, Walmor Chagas, Ludmila Rosa, Clarisse Abujamra, Wesley Macedo, Conceição Senna, Frank Menezes, Paulo César Pereio. 89 min. Pandora Filmes
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