O cinema norte-americano viveu e vive ciclicamente de histórias de superação. A trajetória do "vencedor" que contraria todas as expectativas e ultrapassa todos os obstáculos está no DNA da cinematografia hollywoodiana, é um conceito integrante da cultura norte-americana. O esporte é um universo propício para o surgimento desse tipo de narrativa (ecos de Rocky - O Lutador) e nessa esteira surge o novo filme de Ron Howard, que já havia navegado por essas águas oito anos atrás com A Luta pela Esperança, o Cinderella Man com Russell Crowe e Renée Zellweger. O trabalho em questão é Rush - No Limite da Emoção.
O filme é roteirizado pelo mesmo Peter Morgan responsável pelos roteiros de A Rainha e Frost/Nixon, um dos melhores trabalhos de Howard. Rush - No Limite da Emoção não supera o acabamento deste último, mas rende um filme cheio de vida, que conserva uma certa simplicidade narrativa, evitando descambar para as armadilhas do melodrama. O longa acompanha a marcante rivalidade da Fórmula 1 entre o inglês James Hunt e o austríaco Nikki Lauda. No auge de suas carreiras, na década de 1970, disputando em escuderias rivais, Hunt e Lauda protagonizaram algumas das corridas mais memoráveis da época. A relação entre os dois ficou mais tensa quando Lauda sofreu um grave acidente durante a competição no Japão e acabou tendo o rosto desfigurado pelas queimaduras, além de alguns órgãos afetados.
O trabalho de Peter Morgan em Rush - No Limite da Emoção é bem mais modesto que o usual. O que, por sua vez, enaltece o esforço do diretor Ron Howard, diretor do longa. O vencedor do Oscar por Uma Mente Brilhante, conhecido por ser um realizador que segue a cartilha do roteiro, tem que desdobrar seu empenho em Rush - No Limite da Emoção. Dessa forma, no lugar do diretor engessado pelo script, somos surpreendidos por um Ron Howard preocupado em entregar uma certa personalidade à história, com opções interessantes de passagem de tempo e uma preocupação com a narração imagética.
Howard também, como sempre, conta com o extraordinário desempenho de seus atores para compensar suas deficiências como diretor. No caso, em específico, o alemão Daniel Brühl (você deve se lembrar dele de Edukators ou Bastardos Inglórios), na pele do austríaco Nikki Lauda. Brühl oferece uma performance cheia de vida, carisma e entrega que é responsável pela fidelidade do espectador ao filme até o último minuto. Ainda que Lauda seja uma figura avessa às emoções, pragmática e antisocial por natureza, o vínculo entre ele e o público, fundamental para a evolução da trama, é mantido do início ao fim por Brühl, um ator minuncioso em sua composição e atento à natureza do seu personagem. Chris Hemsworth, o Thor, também encarna muito bem o playboy boa praça James Hunt. Apesar do sotaque britânico soar estranho (aliás não só o dele como o de Olivia Wilde, intérprete da esposa do personagem), Hemsworth consegue algo extremamente difícil na condução desse tipo de personagem, evitar que ele caia na antipatia da plateia.
Rush - No Limite da Emoção é o que Ron Howard pode fazer de melhor. O diretor nunca foi um exemplo de excelência entre seus pares, sempre demonstrou suas limitações em seus trabalhos. O que é mais interessante de se constatar com o tempo é que Howard aprendeu a reconhecer até onde consegue ir e até onde consegue se desafiar e se superar. Rush - No Limite da Emoção é a prova viva desse equilíbrio encontrado por um diretor que já errou feio em O Código Da Vinci, entregou o "arroz com feijão" em Uma Mente Brilhante e se superou em Frost/Nixon. Rush - No Limite da Emoção é o equilíbrio de um diretor que chegou à maturidade e sabe se cercar de bons atores e calcular os seus próprios passos.

Rush, 2013. Dir.: Ron Howard. Roteiro: Peter Morgan. Elenco: Chris Hemsworth, Daniel Brühl, Alexandra Maria Lara, Olivia Wilde, Natalie Dormer, Pierfrancesco Favino, Jay Simpson, Tom Wlaschiha, Patrick Baladi, Rebecca Ferdinando. 123 min. Califórnia Filmes.
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