Em suas primeiras sessões, O Grande Gatsby recebe críticas positivas e negativas em igual proporção. O argumento de ambas: as usuais excentricidades de Baz Luhrmann, seu diretor
Antes que comecem a simplificar o assunto - seguindo uma tendência generalizada para todas as áreas -, com dizeres do tipo "crítico é tudo recalcado", "não me importo com críticas" ou "é uma questão de opinião", digo logo que nada disso se aplica ao caso, ou melhor, nenhuma dessas tentativas de explicação se aplicam a caso algum em se tratando de cinema. Acontece que nesta semana houve a badalada estreia de O Grande Gatsby, novo filme do australiano Baz Luhrmann (Moulin Rouge!), baseado no romance de F.Scott Fitzgerald, e a crítica norte-americana anda dividida, 50/50, diria.
Baz Luhrmann é um cineasta relativamente novo. Talvez hoje, com cinco longa-metragens no currículo, tenhamos uma noção exata do que ele representa para o cinema, onde ele está localizado nesse oceano de novas possibilidades, linguagens e correntes cinematográficas.
Moulin Rouge! foi uma grande exceção em popularidade e aceitação crítica e o contexto o favorecia. Os demais longas da carreira de Baz não resistiram aos seus excessos visuais e narrativos. No entanto, é no excesso que está a originalidade, é nele que reside a sua marca. Sem as cores berrantes, o excesso de diálogo com diversos gêneros e referências, a montagem frenética e o artificialismo, não seria Baz Luhrmann, seria qualquer outra coisa, mas não seria Luhrmann. E isso se aplica a toda sua filmografia. Isso é ser autor no cinema.
A rejeição a Austrália e, possivelmente, a recepção decepcionante a O Grande Gatsby mostra opiniões contrárias e a favor aos filmes na mesma proporção. Nas duas situações, o mesmo argumento que é utilizado para enaltecer o objeto analisado é usado para criticá-lo negativamente. Isso enfraquece a relevância da crítica para o caso de Baz? Muito pelo contrário, enaltece sua relevância como espaço de reflexão, diálogo e argumentação sobre a qualidade e a significação social dos projetos, saindo do terrenos banal e simplista das cotações e da dicotomia "gostei" ou "não gostei" que dominam as editorias de cultura dos veículos.
A abertura do Festival de Cannes na próxima semana (15/05), que terá o filme como grande atração, certamente nos brindará com um quadro ainda mais curioso. Como um grupo aparentemente mais exigente formado pelos críticos especializados que participam das sessões em Cannes, vindos de toda parte do mundo, reagirão à assinatura de Baz em O Grande Gatsby?
De toda sorte, a decisão da Warner em adiar por quatro meses a estreia do filme parece ter sido acertada. Gatsby não dividiu as atenções do estúdio com Argo no ano passado, fazendo com que a Warner dedicasse mais tempo para convencer a Academia a votar no filme de Ben Affleck, que faturou o Oscar de melhor filme, e Gatsby surge como o destaque de um verão norte-americano cuja tendência a cada ano que passa é o cinema testosterona. Um romance como Gatsby é um respiro bem-vindo.
Por outro lado, se não conseguir faturar uma bilheteria que pague os U$ 127 milhões investidos, Baz Luhrmann terá que repensar sua carreira. Depois de fracassos financeiros consecutivos (Austrália não foi muito bem na arrecadação), como o diretor conseguirá que os estúdios desembolsem o dinheiro necessário para suas caras produções cinematográficas? O cinema independente não é o seu nicho...
A brincadeira certamente ficará mais interessante em Cannes. Não sei se para Luhrmann, mas para nós, não há dúvidas que sim.
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