Terreno relativamente novo para os brasileiros, a animação começa a ser um formato interessante para certos tipos de ambições. Imaginem um roteiro como o de Uma História de Amor e Fúria, que se passa em quatro épocas, realizado em um país que pouco incentiva as suas artes como o Brasil? Seria tão complicado e penoso para seus envolvidos quanto foi para os Wachowski e Tom Tykwer levar a frente A Viagem sem o apoio irrestrito dos estúdios norte-americanos, guardadas as devidas diferenças entre os dois casos. A técnica da animação permite tramas ambiciosas como esta, ainda que o resultado de Uma História de Amor e Fúria não seja tão revolucionário quanto se imagina ou se pretende. Quatro realidades bem distintas no Brasil, todas marcadas por situações de luta entre oprimidos e opressores, batalhas que por sua vez são pano de fundo para a história de amor de Janaína e do protagonista, um homem que vive várias vidas há quase 600 anos. O Brasil do "descobrimento", a luta de ex escravos no nordeste, a ditadura militar e o domínio da água por grandes corporações. A conexão encontrada entre elas pelo diretor e roteirista Luiz Bolognesi faz sentido, só que não é esmiuçada, sempre se dissolve para dar lugar a outra trama no melhor momento do "jogo" com o espectador. Conceito interessante mas executado com pouco amadurecimento ou reflexão da própria ideia.
Uma História de Amor e Fúria, 2013. Dir.: Luiz Bolognesi. Roteiro: Luiz Bolognesi. Elenco de vozes: Selton Mello, Camila Pitanga, Rodrigo Santoro. 98 min. Europa Filmes.
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