Retorno de Robert Zemeckis ao live action em O Voo é tímido, mas conta com uma ótima interpretação de Denzel Washington
Os mais novos não devem saber ou não devem ter a dimensão do fenômeno, mas Robert Zemeckis é um dos principais nomes do cinema norte-americano das duas décadas passadas. Zemeckis é realizador da trilogia De Volta para o Futuro, ícone de uma geração. Como se não fosse pouco, Zemeckis ainda dirigiu o igualmente icônico Uma Cilada para Roger Rabbit, o divertido A Morte lhe Cai Bem e o subestimado Contato. Seu último longa em live action (ou seja, com atores de carne e osso) foi Náufrago, que em 2000 rendeu uma indicação ao Oscar de melhor ator para Tom Hanks. Nos últimos anos, o diretor, que sempre flertou com inovações tecnológicas no cinema (vide os casos pioneiros da junção entre atores e desenhos animados em Roger Rabbit e as transformações de Meryl Streep, Goldie Hawn e Bruce Willis em A Morte), começou a "pegar gosto" pelo então recém desenvolvido recurso de animação, o motion capture, técnica utilizada para capturar movimentos de atores e utilizá-los em personagens animados. Dessa safra foram O Expresso Polar, A Lenda de Beowulf e Os Fantasmas de Scrooge.
O retorno de Zemeckis ao live action é celebrado por mais que as três incursões na animação tenham seus lados positivos (e tem, ainda que não tenha conseguido atingir a perfeição técnica nos movimentos dos personagens). O Voo é um drama sobre um piloto alcoólatra que consegue salvar parte dos passageiros e da sua tripulação após alegadas falhas mecânicas na aeronave que pilotava. No entanto, apesar do reconhecido ato heroíco, exames médicos constataram um alto teor alcoólico em seu sangue, levando-o a responder pela acusação de homicídio culposo das vítimas falecidas no voo.
Talvez Zemeckis quisesse fazer um retorno mais tímido e modesto com esse drama que encontra suporte e vigor única e exclusivamente na interpretação comedida e dedicada de Denzel Washignton, que torna seu personagem humano, cheio de falhas, mas também íntegro e repleto de sentimentos sinceros. O que falta a O Voo, um tropeço do seu roteiro estranhamente indicado ao Oscar, é um aprofundamento nas questões éticas e no julgamento do seu protagonista que acaba vez ou outra sendo levantado ao longo da narrativa. Uma espécie de Crime e Castigo com a esperada redenção do protagonista, mas com pouquíssimo conflito e mergulho na culpa do personagem central.
Flight, 2012. Dir.: Robert Zemeckis. Roteiro: John Gatins. Elenco: Denzel Washington, Kelly Reilly, John Goodman, Don Cheadle, Melissa Leo, Bruce Greenwood, Nadine Velazquez, Tamara Tunie, Brian Geraghty, Connor O'Neill. 138 min. UIP.
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