Como manda a cartilha

O Lado Bom da Vida conta com ótimas interpretações, mas é formulaico e traz vícios e repetições do cinema independente norte-americano


Estranhos são os caminhos que levam um filme como O Lado Bom da Vida ser indicado a oito estatuetas do Oscar, quando O Mestre, magnífico trabalho de Paul Thomas Anderson, penou para conseguir suas únicas e "singelas" três indicações ao prêmio. O lobby poderia ser a explicação mais lógica. O curioso aqui é que o responsável pela distribuição e pela campanha de ambos na temporada de premiações é Harvey Weinstein, da atual WTC e da extinta Miramax, o "Midas" do Oscar que conseguiu dar visibilidade ao novo cinema independente norte-americano a partir de Pulp Fiction, mas que também foi responsável por campanhas agressivas e bem sucedida de filmes como O Paciente Inglês, Shakespeare Apaixonado e Chicago, frente a obras como Fargo, O Resgate do Soldado Ryan, As Horas e O Pianista.

O Lado Bom da Vida conta a história de Pat, um professor que acaba de sair de uma instituição psiquiátrica. Seis meses atrás ele descobriu que sua esposa o traia e atacou violentamente o amante dela. Pat foi judicialmente condenado a ficar metros de distância da mulher, no entanto, não consegue tirá-la da cabeça e começa a medir esforços para mostrar a ela que teve uma visível melhora em seu comportamento. No percurso, Pat conhece Tiffany, uma jovem viúva que também é diagnosticada com sérios distúrbios psiquiátricos e que se apaixona por ele.

O fato é que O Lado Bom da Vida se vende muito bem com todos os artifícios e marcações que as comédias independentes norte-americanas costumam recorrer. Artifícios que são utilizados à exaustão durante a projeção, tanto que seu diretor, David O.Russell, conhecido por seu gênio difícil e personalidade marcante na direção, tem suas características praticamente neutralizadas para tornar O Lado Bom da Vida o filme mais palatável possível para as plateias. Assim, ele recorre a recursos, situações e twists óbvios ao longo de sua narrativa. O que não deixa de ser lamentável, tendo em vista que O. Russell é um dos realizadores mais interessantes desta geração, com trabalhos excelentes em Três Reis, Huckabees e no mais recente O Vencedor.

Talvez o contraponto para essa direção relaxada seja a forma com que O.Russell trabalha com seus atores, e aqui talvez seja a chave para descobrir o "mistério" em torno da aceitação dessa dramédia. Todos os desempenhos de O Lado Bom da Vida são muito bons, a começar pelo protagonista. Bradley Cooper preenche seu personagem de humanidade, encontrando humor da forma mais corriqueira possível. Jennifer Lawrence, a despeito de não conseguir ser convencido de que trata-se de um desempenho favorito ao Oscar de melhor atriz (fato praticamente consumado), está radiante como Tiffany. Robert DeNiro retorna às boas interpretações dando vida ao pai do personagem de Cooper, que passou pelos mesmos problemas do filho e torce por sua recuperação. Encerrando o grupo está também a ótima Jacki Weaver como a matriarca da família, uma mulher amorosa que pouco lembra a assustadora avó de Reino Animal, papel que lhe rendeu uma indicação ao Oscar. 

O Lado Bom da Vida preenche os requisitos da Academia mas não deixa uma satisfação plena no espectador quanto ao resultado. Natural, toda lista vem cheia de discordâncias quanto a justiça de suas escolhas. É perfeitamente compreensível a razão de O Lado Bom da Vida estar entre os melhores filmes do ano na concepção da Academia. Racionalmente é possível apontar as razões para o fenômeno, o brunch de atores (a maior parte dos votantes do Oscar são atores) e a fórmula seguida por David O.Russell. Mas justiça seja feita, não é uma das melhores escolhas que a Academia já fez.



Silver Linings Playbook, 2012. Dir.: David O.Russell. Roteiro: David O.Russell. Elenco: Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert DeNiro, Jacki Weaver, Chris Tucker, Anupam Kher, Julia Stiles, John Ortiz, Shea Whigham, Brea Bee, Paul Herman. 122 min. Paris Filmes.

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Chovendo Sapos: Como manda a cartilha
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