Michael Haneke trata a velhice de forma terna e melancólica em Amor
Hábil em testar percepção e sensibilidade, Michael Haneke é um realizador cuja maior característica é o sadismo em levar personagens e espectador a extremos, algo compartilhado com outros diretores contemporâneos, como Lars Von Trier e Abbas Kiarostami. No entanto, alguns de seus trabalhos mais célebres, como Caché e A Fita Branca, sequer passavam pela ternura que inebria este novo filme do cineasta alemão, Amor. Vencedor da Palma de Ouro no último Festival de Cannes, Amor é o retrato melancólico de um casal de idosos que enfrenta a finitude da vida quando um deles, no caso a esposa, é vitima de um derrame.
Veteranos da Nouvelle Vague, Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva percorrem ao longo de Amor toda a trajetória de Georges e Anne, que, até o último minuto de suas vidas, testam o amor que sentem um pelo outro e a capacidade de sublimar esse sentimento independente das circunstâncias que porventura possam desestabilizá-lo. O roteiro de Haneke segue os últimos dias na vida do casal e trata com muita sinceridade a velhice, tema por vezes tabu, sem deixar de trazer um olhar afetuoso e jamais flertando com as facilidades e armadilhas de um melodrama.
Tudo é muito melancólico em Amor. O longa é ambientado na maior parte de sua projeção no apartamento do casal protagonista, uma criação interessantíssima em seus cômodos, objetos e disposições de ambientes, algo que fortalece ainda mais a noção de que Anne e Georges vivem em um universo particular e triste, mas também aconchegante e repleto de afabilidade. A construção dramática proporcionada pelo roteiro e pelas opções da direção de Michael Haneke também são espetaculares, utilizando ao máximo as potencialidades da linguagem e da narrativa cinematográfica, o diretor evita cair nos excessos didáticos que acabam sendo o mal de muitos cineastas.
E o filme só ganha com a presença de seus protagonistas, Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva, que exploram ao máximo a cumplicidade de Georges e Anne. Trintignant segura as pontas enquanto vê o amor de sua vida partir diante de seus olhos, ao mesmo tempo em que também acaba se destruindo nesse processo, como acontece na maior parte dos casos. Assim, o filme deixa bem claro que a via crucis só é sentida e vivida de fato pelo casal, ainda que seus filhos sintam a dor desse momento (passado aqui pela presença de Isabelle Huppert, filha do casal). Já Emmanuelle Riva tem um desempenho espetacular ao conduzir todos os estágios da doença de sua personagem. Uma interpretação primorosa.
Comprovando ser um dos realizadores mais contundentes do cinema, Michael Haneke diversifica os horizontes de sua filmografia com Amor, um dos filmes mais emotivos de toda a sua carreira. Contando com as interpretações dos veteranos Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva, merecidamente indicada ao Oscar, Amor é o exemplar definitivo do cinema sobre a velhice, tratando a finitude humana da maneira mais verdadeira possível, sem sentimentalismo e com muita sensibilidade.
Amour, 2012. Dir.: Michael Haneke. Roteiro: Michael Haneke. Elenco: Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva, Isabelle Huppert, William Shimell, Alexandre Tharaud, Ramón Agirre, Rita Blanco, Carole Franck, Dinara Drukarova, Suzanne Schmidt. 127 min. Imovision.
COMENTÁRIOS