Steven Soderbergh encontra drama e melancolia no rentável negócio do striptease masculino da Flórida de Magic Mike
Steven Soderbergh não dorme em serviço. E ainda que aqui e ali tenha alguma reserva em sua extensa filmografia, o olhar de Soderbergh para os temas que escolhe em seus filmes é sempre relevante, ainda que soe algumas vezes pernóstico, como no projeto Che ou em Confissões de uma Garota de Programa. O norte-americano já anunciou que vai parar as atividades muito em breve para se dedicar às artes plásticas, no entanto, tem pelo menos dois projetos na gaveta prontinhos para estrear,Side Effects, drama sobre a indústria dos medicamentos psiquiátricos com Rooney Mara, Jude Law, Catherine Zeta-Jones e Chaning Tatum, e seu derradeiro longa, Behind the Candelabra para a HBO, no qual Michael Douglas interpreta o showman Liberace e Matt Damon vive o seu amante, ambos estrearão em 2013. Antes disso, Soderbergh veio com aquele que talvez é um dos seus maiores sucessos comerciais , Magic Mike, drama sobre o universo do striptease masculino com Chaning Tatum, que por sinal já fez parte desse mundo. O filme custou cerca de US$ 7 milhões e arrecadou quase US$ 140 milhões só nos EUA, sendo que esse lucro ficará com Soderbergh já que ele não contou com o financiamento de um grande estúdio.
Em Magic Mike, o norte-americano habilmente transforma um filme que teria tudo para ter uma trama superficial (ecos de Striptease com Demi Moore) em um longa pontual sobre as escolhas erradas da juventude, o caminho mais fácil que no final das contas traz uma conta mais cara quando estamos à beira da maturidade. Temos a história de Adam, um jovem sem muita perspectiva de futuro que acaba se encantado pelo mundo sedutor das boates de striptease masculino. Ele é ciceroneado nesse universo por Mike, um stripper prestes a completar trinta anos que planeja abrir um negócio em Miami e largar a boate onde trabalha há dez anos. Mas a despeito das "cores" que traz para seu filme logo no início, Soderbergh logo revela um mundo de futilidades, narcísico, imediatista, sem perspectivas e imerso em misoginia.
Claro que provavelmente por respeito ao próprio Channing muita coisa ficou pasteurizada. Provavelmente o universo de Magic Mike seria menos leve em outras circunstâncias. Mas Soderbergh preferiu atenuar um pouco o lado mais sombrio do projeto, ainda que ele esteja presente, só que em doses homeopáticas, o que não retira em nada os méritos do cineasta. Soderbergh parece ter encontrado enfim o equilíbrio entre seu ego e o ritmo da narrativa. Magic Mike não é a melhor coisa que ele já fez, mas merece os créditos pelo pulso firme de um diretor que soube ir pelo caminho menos óbvio e fisgar as plateias que certamente se surpreenderão com os temas que o longa evoca e com a contundência com que constroi seu protagonista, vivido por um surpreendente Channing Tatum.
Com conhecimento de causa, Tatum compreende todas as nuances e dilemas de Mike, um jovem que oscila entre a inconsequência e a maturidade. A maior frustração de Mike é saber que tem meios para mudar de vida e que apesar disso não consegue concretizar essa guinada. Mas não há dúvidas que o maior rival de Channing no quesito "revelação" não é Alex Pettyfer, que vive o pupilo Adam, mas sim Matthew McConaughey. O personagem do texano é o stripper mais experiente do grupo, Dallas, que caiu como uma luva para McConaughey. O ator consegue transformar o personagem em uma figura carismática, mas também repulsiva pelo excesso de vaidade e pela falta de limites para conseguir o que quer.
Com um roteiro muito bem escrito, sabendo dosar o degringolar dos acontecimentos e levar a história ao clímax do terceiro ato, sem desviar-se com personagens periféricos ou seduzir-se pelo apelo do público ao elenco de saradões do filme, Magic Mike é um filme surpreendente. Soderbergh sabe como poucos frustrar as expectativas de uns e entregar um resultado acima da média através dos caminhos menos óbvios. Outro mérito do cineasta aqui é a escalação do seu elenco, Soderbergh sempre soube aliar as exigências dos personagens com as limitações dramáticas de seus próprios atores. Esta combinação de fatores faz de Magic Mike um filme denso e cheio de nuances que supera o seu próprio "cartão de visitas".
Magic Mike, 2012. Dir.: Steven Soderbergh. Roteiro: Reid Carolin. Elenco: Channing Tatum, Matthew McConaughey, Alex Pettyfer, Cody Horn, Olivia Munn, Matt Bomer, Joe Manganiello, Adam Rodriguez, Kevin Nash, James Martin Kelly. 110 min. Imagem Filmes
COMENTÁRIOS