Entra ano e sai ano eu não deixo de lembrar essa data. Exatamente no dia 22 de outubro de 2006, o Raining Frogs entrou na rede com seu primeiro post. Em outubro passado, o blog completou seis anos de existência.
Esse espaço já deixou de ter um cunho comercial e apesar de representar nos últimos anos uma espécie de válvula de escape, um momento no qual realmente posso falar sobre o que amo e da forma que eu quero, cinema, não deixo de ter um compromisso com todos que passam um tempinho aqui.
Por amizade (rs) ou curiosidade, hoje o Raining Frogs conta com a ajuda e o retorno de todos vocês. Para não deixar passar a data em branco, lembrei alguns nomes do cinema que surgiram, fizeram história ou se reinventaram nesses seis anos.
Filmes
Começaremos pelos filmes e pelo primeiro longa a encabeçar o Listão de melhores do ano: Filhos da Esperança, de Alfonso Cuáron (E sua mãe também), em 2006, ano de abertura do blog. O longa passou batido nas premiações daquele ano e hoje tem status de cult no gênero "futuro apocalíptico". Conta a história de um jornalista desacreditado na humanidade que de repente se vê envolvido em uma trama para salvar a única mulher fértil na Terra.
Em 2007, foi a vez de escolhermos Pecados Íntimos, um pequeno, brilhante e complexo drama de Todd Field (Entre quatro paredes) no subúrbio dos EUA que trata da eterna imaturidade humana. Traz Kate Winslet, indicada ao Oscar aqui, Jennifer Connelly e o excepcional Jackie Earle Haley, intérprete de um pedófilo, também foi lembrado pela Academia.
Desde o início do Raining Frogs sabia que em algum ano lembraria de uma adaptação de HQs, ainda mais se ela fosse protagonizada pelo meu super-herói preferido desde a infância, Batman. Dando continuidade aos trabalhos de Christopher Nolan (Amnésia) na franquia, Batman - O Cavaleiro das Trevas fez a transposição definitiva dos quadrinhos para o cinema (e não me venham com a histeria de Os Vingadores!).
Sangue Negro, de 2007, lançado em 2008 no Brasil, trouxe Paul Thomas Anderson (Magnólia) de volta após um hiato de cinco anos. O cineasta mais uma vez conseguiu fazer um grande candidato a épico americano. Protagonizado pelo sempre intenso Daniel Day-Lewis, vencedor de um Oscar entre tantos outros prêmios por esse desempenho, Sangue Negro é um filme sobre o embrião da ambição e da corrupção no ser humano
Seguindo a cartilha dos complexos dramas sobre relacionamento, Amantes foi um filme que gerou simpatia em 2009. O longa de James Gray (Os Donos da Noite) fala sobre a escolha entre o sentimento seguro, personificado por Vinessa Shaw, e a instabilidade afetiva, representada pela personagem de Gwyneth Paltrow. A escolha deve caber ao introvertido e inseguro personagem de Joaquin Phoenix. O resultado é lindo, poético.
No mesmo ano de Amantes, esse blog lembrou da revolução tecnológica de Avatar, primeiro filme inteiramente em 3D, dirigido pelo dedicado James Cameron (Titanic). Ok, não sei se hoje Avatar sobreviveria ao tempo como Titanic, mas vale a lembrança. Não tinha como passar batido...
Provavelmente mais resistente ao tempo, A Origem é o segundo filme de Christopher Nolan na lista. O longa firmou em definitivo o nome de Nolan no panteão hollywoodiano, possibilitando-o livre acesso na Warner. Aqui, gerou um dos posts mais comentados nesses seis anos de existência do blog, com infinitas discussões sobre seu desfecho.
David Fincher aparece na lista com aquele que é o seu Cidadão Kane. Guardada as devidas proporções, o diretor descortinou o império das comunicações de nossa época, as redes sociais, através de A Rede Social. O criador do Facebook, o emblemático e controverso Mark Zuckeberg, proporcionou a Fincher seu primeiro estudo pontual sobre um personagem. Caiu como uma luva, um personagem eminentemente racional nas mãos de um diretor eminentemente racional.
Cisne Negro foi outro filme que marcou os seis anos do blog. Trata-se de um dos projetos mais aguardados de Darren Aronofsky, que começou a década muito bem com Requiém para um Sonho. O thriller ambientado nos bastidores de uma montagem novaiorquina de O Lago dos Cisnes rendeu o esperado Oscar de melhor atriz a Natalie Portman. O longa é um exemplar até então invicto das marcas de Aronofsky como cineasta.
Já A Árvore da Vida, vencedor da Palma de Ouro em Cannes no ano de 2011, foi um dos filmes mais controversos nesses seis anos. Teve quem achasse pretensioso... Particularmente, acredito que o filme de Terrence Malick é na verdade ambicioso, o que é bem diferente. Acontece que a abordagem existencialista, uma marca de Malick, e a forma como ele expõe sua história ainda causa estranheza no público médio ou mesmo entre os cinéfilos. Basta lembrar, e não estou exagerando, que grandes filmes tiveram a mesma rejeição das plateias quando foram lançados. O tempo dirá.
Diretores
1 - Christopher Nolan - Um dos poucos cineastas a conseguir aliar o apelo comercial com o cinema de autor. O ápice da carreira de Nolan aconteceu em 2008, com Batman - O Cavaleiro das Trevas, e em 2010, com A Origem. Hoje, ele é um dos poucos a ter uma certa autonomia mesmo sendo contratado de um estúdio, no caso a Warner (casa que deu a mesma liberdade para Kubrick). Nesses seis anos, Nolan também nos trouxe O Grande Truque (2006) e o encerramento da trilogia O Cavaleiro das Trevas com Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012).
2 - Selton Mello - Grande alento da nova safra do cinema nacional, dominado pela Globo Filmes e suas produções pasteurizadas, Selton Mello revelou-se um excelente cineasta. Após sua estreia com o melancólico Feliz Natal (2008), o diretor fez O Palhaço no ano passado (nosso candidato a uma vaga no próximo Oscar). Atualmente, Mello dirige a série Sessão de Terapia do GNT, um dos programas mais elogiados da grade do canal.
3 - Ben Affleck - Também fazendo muito bem a transição da interpretação para a direção, Ben Affleck mostrou ser mais que uma versão 2.0 de Clint Eastwood. Claro que as comparações são inevitáveis, ainda mais porque Affleck dirigiu até o momento dramas policiais, forte do Clintão. No entanto, ele tem trilhado sua própria trajetória com o excelente Medo da Verdade, de 2007, e o correto Atração Irresistível, de 2010, filmes com marcas muito pessoais. A grande chance de Affleck ainda está por vir com Argo, filme que será lançado no Brasil em novembro e que promete levá-lo finalmente ao Oscar.
4 - James Gray - Um dos cineastas mais subestimados de sua geração, Gray começou a carreira com filmes policiais que exploravam a violência e eram centrados em grandes conflitos familiares, a maioria masculinos. As comparações aqui foram com a filmografia de Martin Scorsese. Foi assim em Caminho sem Volta, de 2000, e Os Donos da Noite, de 2007. Dois anos depois, Gray viria com seu filme mais interessante e curiosamente menos conhecido, Amantes, um drama simples sobre relacionamentos. Espero que o tempo seja mais justo com Gray...
5 - David Yates - O inglês David Yates entregou nada menos que quatro filmes acima da média nesses seis anos, todos da franquia Harry Potter. Ele merece estar na lista por ter sido responsável pelo amadurecimento da franquia e ter realizado um trabalho exemplar na condução de A Ordem da Fênix, O Enigma do Príncipe e As Relíquias da Morte - Parte 1 e 2. Se ele fez isso com uma franquia tão controlada e com tanta gente para dar pitaco como Harry Potter, imagina o que ele pode fazer em um projeto mais autoral.
6 - Sean Penn - Apesar de ter rodado apenas um longa nesses seis anos, Sean Penn foi responsável por Na Natureza Selvagem, mais um exemplar do inesquecível ano de 2007. Atrás das câmeras, Penn mostrou o mesmo vigor e visceralidade que demonstra na frente das câmeras. A gente também fica na fila a espera da próxima empreitada dele como diretor.
Atores
Ryan Gosling - Raro caso de ator que consegue colecionar composições interessantes no currículo e manter o status de galã hollywoodiano, o recente Drive talvez seja o exemplar vivo disso, Gosling já teve momentos interessantes em Diário de uma Paixão (2004) e A Passagem (2005), mas mostrou serviço mesmo a partir de 2006 com Half Nelson, sua primeira e única indicação ao Oscar. De lá para cá, foram Namorados para Sempre (2010), Tudo pelo Poder (2011) e sobretudo A Garota Ideal (2007), que o tornaram um dos nomes mais disputados entre os produtores.
Brad Pitt - Esses seis anos também fizeram bem a Brad Pitt. O ator entregou uma performance tocante em Babel, de 2006, ganhou o Festival de Veneza com sua interpretação em O Assassinato de Jesse James em 2007 e fez sua terceira parceria com David Fincher, O Curioso Caso de Benjamin Button, de 2008, trabalho pelo qual foi indicado ao Oscar. O ator ainda foi lembrado pela Academia neste ano com O Homem que Mudou o Jogo. A fórmula para a transformação de Pitt de galã canastrão a ator premiado foi trabalhar com as pessoas certas. Seus últimos projetos foram dirigidos por Quentin Tarantino (Bastardos Inglórios) e Terrence Malick (A Árvore da Vida). Pitt é a prova de que nem sempre é preciso ter um talento nato, ele pode ser construído com o tempo e com as parcerias certas.
Selton Mello - O brasileiro não merece menção apenas por seu trabalho como diretor, Mello, um dos atores mais ativos do nosso cinema, esteve simplesmente brilhante em O Palhaço, que ele mesmo dirigiu e que estreou em 2011, e em Jean Charles, de 2009. Além desses longas, o ator também está ótimo em Meu Nome não é Johnny, de 2008, e na breve participação que fez em Os Desafinados, também de 2008, na pele de um cineasta (!!!!). O ator também divertiu em A Mulher Invisível, filme de 2009. Selton Mello nunca é demais!
Heath Ledger - O intérprete do icônico Coringa de Batman - O Cavaleiro das Trevas era conhecido por ser canastrão em suas performances até cair nas graças de Ang Lee e protagonizar O Segredo de Brokeback Mountain em 2005. Desde então, Ledger mostrou ser uma grande promessa que assim como James Dean foi embora muito cedo. Ficou a clara sensação que ele ainda tinha muito mais a nos oferecer.
Christoph Waltz - O austríaco tem repetido seu tipo em Bastardos Inglórios desde então, mas não dá para esquecer Hans Landa. As melhores cenas do filme de Tarantino são de Christoph Waltz. O ator voltou a surpreender em Deus da Carnificina, de 2011, mas ainda esperamos que ele saia da sombra do personagem que o apresentou ao grande público. Quem sabe não é agora com Django Livre, mais recente filme de Tarantino?
Ricardo Darin - O argentino virou selo de qualidade de qualquer filme que o traga como protagonista. Darin foi o protagonista de O Segredo dos seus Olhos, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2009, e esteve incrível em Um Conto Chinês no ano passado. É o típico caso de baixarmos a guarda e reconhecemos o talento de um argentino.
Atrizes
Marion Cotillard - Quem acompanha o blog sabe que a francesa vencedora do Oscar por Piaf - Um Hino ao Amor , em 2007, é um dos meus maiores xodós. Cotillard não conseguiu ainda o status de uma Penélope Cruz, Catherine Deneuve ou Sophia Loren em terras ianques, mas sempre procurou os melhores diretores para trabalhar. Desde então, já atuou com Woody Allen (Meia -Noite em Paris), Christopher Nolan (A Origem e Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge) e Michael Mann (Inimigos Públicos). Cotillard ainda esteve incrível em Nine, de 2009, sendo disparada a melhor coisa em um musical que trazia Daniel Day-Lewis, Judi Dench e Nicole Kidman e que ainda assim foi um fracasso.
Penélope Cruz - A espanhola sofria rejeição parecida com a que Heath Ledger sofreu no início da carreira nos EUA. No caso de Cruz, a situação era ainda mais difícil, o sotaque da atriz, que poderia ser um charme a mais em suas performances, era motivo de chacota. Foi só Cruz assumir sua origem espanhola e voltar a trabalhar com Pedro Almodóvar que ela recebeu sua primeira indicação ao Oscar e a vários prêmios em 2006 com Volver. Depois, Cruz trabalhou com Woody Allen em Vicky Cristina Barcelona, de 2008, e levou o Oscar de melhor atriz coadjuvante, a atriz também foi indicada por Nine, de 2009, na mesma categoria.
Kate Winslet - Quando venceu o Oscar de melhor atriz em 2008 com O Leitor, Kate Winslet já era recordista na premiação. Winslet era a atriz mais jovem com mais indicações ao prêmio no currículo, cinco no total (Razão e Sensibilidade, Titanic, Íris, Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e Pecados Íntimos). No mesmo ano que levou a estatueta por O Leitor, Winslet estrelou o subestimado Foi Apenas um Sonho. No ano passado, a inglesa esteve em Mildred Pierce, minissérie da HBO de Todd Haynes, um verdadeiro primor televisivo. O segredo de Winslet? Ser extremamente seletiva em seus papéis. Dificilmente ela sai de casa para atuar em um projeto qualquer.
Amy Adams - Adams é uma daquelas atrizes que todo mundo já viu em algum filme, mas que poquíssimas pessoas reparam nos detalhes de suas performances. Que outra atriz carregaria com tanta dignidade e se aplicaria tanto na composição de uma autêntica princesa Disney (e com tantas referências) como ela fez em Encantada, mistura de animação e live action de 2007. A atriz já tem três indicações ao Oscar (Dúvida, O Vencedor e, a melhor delas, Retratos de Família) e especula-se sempre esteve como a segunda opção do prêmio nos anos que esteve na disputa.
Viola Davis - A atriz já é veterana em Hollywood, mas só foi reconhecida mesmo depois de roubar a cena de Meryl Streep com menos de dez minutos em cena no drama Dúvida, de 2008. Davis conseguiu o papel depois que escreveu uma biografia para sua personagem e a entregou nas mãos do diretor John Patrick Shanley. No ano passado, Davis teve o melhor momento de sua carreira com Histórias Cruzadas, rivalizando com Streep (!!!) o Oscar de melhor atriz. Injustamente, o prêmio foi para Streep. Enfim, uma daquelas injustiças que a Academia faz quando quer reparar outras injustiças. No caso, a necessidade de dar um terceiro prêmio a Streep, ainda que por um filme medíocre como A Dama de Ferro. Todos esperamos que o fato de estar acima dos 40 e de ser negra não coloquem Davis em um limbo que grandes atrizes já estiveram.
Jessica Chastain - Parece que Jessica Chastain surgiu ontem, mas não foi bem assim.A atriz esteve em nada menos que seis produções somente em 2011. Acontece que todas essas produções com Jessica sofreram adiamentos e a atriz teve uma superexposição (positiva) no ano que passou. Chastain tem seus melhores trabalhos em A Árvore da Vida, O Abrigo e Histórias Cruzadas, pelo qual foi indicada ao Oscar. A gente ainda vai ouvir muito o nome dessa moça...
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