Com sensibilidade, As Vantagens de ser Invisível traz a adolescência como ela é: a pior e a melhor fase de nossas vidas
Charlie é um garoto de 16 anos que passa a maior parte do tempo sozinho, escrevendo confissões para um amigo que "não existe" (assistindo ao filme entenderá porque está entre aspas). Mesmo prometendo começar o ano no colégio estabelecendo novos vínculos afetivos, qualquer aproximação parece muito difícil para Charlie. Ele encontra consolo nas fitas mixadas pelo namorado de sua irmã e abandonadas por ela, uma compilação que inclui canções do The Smiths e toda sorte de melancolia musical. Tudo muda quando Charlie conhece Patrick, um veterano extrovertido, e Sam, também mais velha que Charlie e que acaba, com sua sensibilidade, conquistando o coração do menino. A amizade dos dois passa a ser um alento na vida de Charlie que começa a curar as feridas de um passado traumático e descobre o mundo que antes tinha medo de desbravar.
As Vantagens de ser Invisível é uma adaptação do livro homônimo de Stephen Chbosky. O filme acabou tendo o roteiro do próprio Chbosky que, para manter ainda mais o controle sobre a sua obra, assumiu também a direção do projeto. O resultado é um longa pequeno, mas extremamente delicado no retrato que faz da adolescência. Aqui, paradoxalmente bela e triste, mas sempre hiperlativa, com sentimentos vibrantes e espontâneos. Só por essas características, As Vantagens de ser Invisível merece menção em um ano tão morno nas telonas brasileiras.
Como diretor, Chbosky demonstra um cuidado em evitar excessos e estereotipações. E ele poderia cair muito fácil nessa armadilha, já que sua trama é protagonizada por um outsider, sua musa inalcansável e seu amigo homossexual divertido, enfim, alguns tipos conhecidos do colegial. Contudo, Chbosky segue a cartilha de seu trabalho original e preserva a humanidade que existe em cada um desses perfis, explorando em minúncias suas dores e inseguranças, que não são poucas. O diretor evita os excessos e jamais se coloca à frente de seu próprio trabalho, compreendendo que o foco deve ser depositado exclusivamente na performance de seu trio de protagonistas, todos impecáveis.
Já que falamos deles, vamos ao elenco. Logan Lerman é uma das surpresas mais gratas do filme. O jovem ator que sempre apareceu promissor, ainda que em filmes ruins como Percy Jackson e o Ladrão de Raios e Os três Mosqueteiros, tem sua grande chance e não faz por menos: mostra que é um baita de um ator. Lerman expressa todo o turbilhão de emoções contidas em Charlie, que surge tenso na maioria das cenas e que gradualmente se desarma para o mundo, um desempenho lindo de se acompanhar. Ezra Miller, que já esteve brilhante em Precisamos falar sobre o Kevin, também não deixa barato com seu marcante Patrick. Emma Watson, por sua vez, vive como ninguém a compreensiva e apaixonante Sam.
Através de um personagem doce e introvertido, Stephen Chbosky faz um filme honesto e sensível. Um olhar positivo, porém realista, sobre a melancolia, comumente atenuada, da fase mais extrema de nossas vidas. As Vantagens de ser Invisível é pulsante, vivo em cada frame. Não por recursos estéticos ou tecnológicos empregados, mas pelos sentimentos que movem as performances de seus atores. Para quem durante algum tempo de sua vida já foi um jarro de flor no colegial e sabe quão difícil é fazer um movimento para ser aceito, quando na verdade trata-se apenas de encontrar as pessoas certas para isso, As Vantagens de ser Invisível é altamente recomendável.
The Perks of being a Wallflower, 2012. Dir.: Stephen Chbosky. Roteiro: Stephen Chbosky. Elenco: Logan Lerman, Emma Watson, Ezra Miller, Paul Rudd, Mae Whitman, Joan Cusack, Dylan McDermott, Kate Walsh, Johnny Simmons, Nina Dobrev. 103 min. Paris Filmes
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