Uma coisa é Quentin Tarantino reescrever a história em Bastardos Inglórios, dando aos judeus a responsabilidade pelo destino de Adolf Hitler e o nazismo, uma catárse que somente o cinema poderia ser responsável por realizar em níveis tão complexos (na ficção e na realidade). Outra coisa é o russo Timur Bekmambetov, realizador de Guardiões da Noite e O Procurado, transformar o ex-presidente dos EUA Abraham Lincoln em um hábil caçador de vampiros e trazer como motivo da guerra civil norte-americana um pretenso conflito entre vivos e mortos, tudo com muita seriedade. Como se não bastasse sua proposta estapafúrdia, a premissa e o desenvolvimento do roteiro foram feitos pelo escritor da obra literária que deu origem ao filme, Seth Grahame-Smith, o que significa que os problemas precedem o próprio longa. Claro que Abraham Lincoln - Caçador de Vampiros tem o requinte e o cuidado técnico desse tipo de produção. No entanto, é óbvio que isso não é suficiente para dar credibilidade ao longa, sobretudo no terceiro ato, quando o ator Benjamin Walker, intérprete de Lincoln, aparece muito bem caracterizado como o protagonista em sua fase mais madura. Somando-se a esses problemas, certas soluções que o roteirista encontra para o filme, como por exemplo o demorado insight do protagonista na busca por uma estratégia para derrotar os vampiros na guerra ("Ah! Claro! A prata, que utilizei durante todo o filme e que é matéria prima da arma que utilizo desde o início na caçada aos vampiros!"), e a teimosia de Bekmambetov em usar aleatoriamente o slow motion em cenas de ação, o filme é um dos projetos mais infelizes de 2012.
Abraham Lincoln - Vampire Hunter, 2012. Dir.: Timur Bekmambetov. Roteiro: Seth Grahame-Smith. Elenco: Benjamin Walker, Dominic Cooper, Mary Elizabeth Winstead, Anthony Mackie, Rufus Sewell, Marton Csokas, Jimmi Simpson, Joseph Mawle, Erin Wasson. 105 min. Fox.
COMENTÁRIOS