Ópera Rock

Rock of Ages emperra por não ter uma trilha que sirva para o desenvolvimento de sua história


Para uma década considerada por muitos como uma década sem referencial artístico, os anos 1980 polarizaram o universo musical. O amadurecimento do Rock e a ampliação daquilo que convencionou-se chamar Pop, com o advento da imagem associada ao trabalho musical, proporcionado principalmente pela forte vinculação da música com a imagem, foram algumas das principais características daquele período. Com esse intuito, a Broadway trouxe Rock of Ages, musical que fala sobre essas tensões no cenário musical dos anos 1980, mas que no final acaba sendo uma grande ode ao Rock. Bom, ao menos essa é a intenção do projeto, que chega internacionalmente com essa adaptação cinematográfica.


Dirigido por Adam Shankman, responsável pelo divertido Hairspray, Rock of Ages traz a história de dois jovens do interior apaixonados pela música que partem para Los Angeles para conquistar uma carreira no ramo. Os dois acabam se apaixonando e são inseridos entre um intenso conflito protagonizado por um grupo de beatas local, organizado pela esposa do prefeito da cidade, e Stacy Jaxx, uma lenda do rock que está a assumir uma carreira solo.


Com tantas tramas e personagens, a maioria deles absolutamente descartáveis na trama, fica difícil para Shankman organizar as frentes de seu filme. O diretor opta por utilizar algumas marcas de seu trabalho anterior, Hairspray, lançando elementos que foram exitosos ali, mas que aqui soam fora de contexto e só servem para bagunçar ainda mais os propósitos da trama. Há muito non sense e sugestões de cunho sexual, algumas nem chegam a ser sugestões de tão explícitas, por exemplo. Essas situações em Hairspray eram funcionais e faziam sentido com a proposta do longa. Aqui, só servem para transformar o filme em uma verdadeira bagunça sem objetivo ou proposta mais sólida.


Para completar o descompasso, o musical emperra por não conseguir atender a uma exigência básica do gênero: harmonizar suas canções com a narrativa. São poucos os números musicais que servem para expor as aspirações e a evolução de seus personagens. Afinal, é de conhecimento do mais leigo dos mortais que canções são inseridas na narrativa de um musical com esse propósito. A produção ainda tenta encaixar a cantora Mary J. Blige como um dos personagens do filme, a gerente de um clube de strippers, que jamais diz a que veio, mas que sempre está presente em um número musical. Ao que tudo indica, só para constar.

 

No elenco, há um grande tropeço na escalação. Julianne Hough é constrangedora em seus esforços, se é que eles existiram. A voz de Hough é irritante e a atriz não economiza caras e bocas em cena. Essas observações assumem uma repercussão ainda mais grave por se tratar de uma das protagonistas do filme e por ela interpretar mais da metade do repertório de Rock of Ages. Seu par romântico, Diego Boneta é bem mais convincente, o que ajuda a sustentar o mote romântico do filme em diversos momentos.
Os destaques vão mesmo para os veteranos que, infelizmente, têm menos espaço que a dupla de novatos. Catherine Zeta-Jones retorna com vigor para um gênero que lhe rendeu um Oscar – o melhor número musical é dela- , interpretando a beata que trava uma guerra contra a casa de shows de Rock administrada por Alec Baldwin e Russell Brand, que têm alguns dos melhores momentos do filme, até protagonizarem o número mais constrangedor do longa. Paul Giamatti também está excelente como o empresário musical que controla a carreira de Stacy Jaxx.

A presença de Tom Cruise no filme é uma das mais inusitadas da carreira do ator. Cruise retrata o roqueiro Stacy Jaxx como uma figura aparentemente ausente, já que aparece sempre chapado e proferindo palavras sem nexo, que cresce consideravelmente nos palcos. O ator personificou bem o espírito que o filme tenta imprimir e usa referências vastas para seu desempenho nos palcos – momentos estes que só engrandecem o desempenho de Cruise -, como Axl Rose, do Guns’n’Roses, ou Mick Jagger, dos Rolling Stones. Contudo, apesar do êxito de Cruise, o roteiro escorrega ao tentar convencer o público de que há faíscas em seu romance com a frígida repórter vivida por Malin Akerman, disparado a integrante do elenco mais prejudicada, já que sua personagem jamais diz a que veio, nem proporciona de fato uma transformação em Stacy Jaxx.


Com Rock of Ages, a sensação que fica é que Adam Shankman se perdeu em seu próprio estilo e marcas como diretor. O descompromisso e a tensão entre a inocência e a malícia dos anos 1950 de Hairspray se repete em um contexto inapropriado em Rock of Ages, despersonalizando o filme. É uma pena que ele escorregue exatamente no diálogo entre trilha e narrativa, corroborando ainda mais para a avaliação preconceituosa de quem não gosta do gênero sem ao menos conhecer seus principais expoentes. Rock of Ages certamente não é o melhor exemplar da escola cinematográfica. 




Rock of Ages, 2012. Dir.: Adam Shankman. Roteiro: Justin Theroux, Chris D'Arienzo e Allan Loeb. Elenco: Tom Cruise, Julianne Hough, Diego Boneta, Alec Baldwin, Paul Giamatti, Catherine Zeta-Jones, Russell Brand, Malin Akerman, Bryan Cranston, Mary J. Blige, Will Forte. 123 min. Warner.

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Chovendo Sapos: Ópera Rock
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