Sam Worthington e Keira Knightley analisam a relação em Apenas uma Noite. |
Antes deste Apenas uma Noite, a iraniana Massy Tadjedin havia roteirizado Camisa de Força, thriller psicológico no qual Adrien Brody viveu um veterano de guerra encaminhado para uma instituição destinada a pacientes com problemas mentais. O personagem subitamente desperta neste local e se descobre como uma cobaia de um experimento misterioso. Apenas uma Noite é sua estreia na dupla função - roteirista e diretora - e também sua estreia no comando de um longa-metragem. Tadjedin cumpre satisfatoriamente os dois cargos que ocupa aqui. Se como roteirista ela demonstra uma pertinência em diálogos e na construção psicológica de seus personagens, como diretora aprende que, no caso de Apenas uma Noite, quanto menos interferência com ângulos e cortes, melhor. O filme em questão pede uma abordagem intimista. Tadjedin realiza um trabalho interessantíssimo compreendendo os limites de sua narrativa e não prolongando a trama mais do que deveria. A diretora torna seu trabalho um daqueles velhos clichês: "um pequeno grande filme".
Apenas uma Noite traz como centro de sua narrativa um jovem casal que compartilha o mesmo teto há três anos. Joanna e Michael são apaixonados um pelo outro, mas colocam o matrimônio à prova ao cogitar a infidelidade no relacionamento. Michael começa a sentir atração física por uma colega de trabalho e Joanna reencontra um antigo namorado. Ao utilizar este quadrado amoroso, Massy Tadjedin aproxima seu filme de Closer - Perto Demais, adaptação da peça teatral de Patrick Mabber, dirigida por Mike Nichols em 2004. No entanto, a cineasta pretende ser bem mais objetiva em sua temática em Apenas uma Noite: a discussão aqui gira em torno da fidelidade, ou da falta de.
Personagem de Keira Knightley se deixa levar por paixão antiga, vivida pelo francês Guillaume Canet. |
Neste ponto, o longa aproxima-se mais de De Olhos bem Fechados, de Stanley Kubrick. Massy é bem clara com seu filme: ser fiel nada tem a ver com a existência de um casamento ou com amar alguém. Trata-se de uma opção. O amor entre Joanna e Michael não os tornam imunes aos estímulos alheios, ao interesse por outras pessoas, enfim, a sentirem-se tentados a trair. A fidelidade não é um valor ou um estandarte adquirido instantaneamente com o compromisso conjugal e é preciso muita maturidade para compreender como esta dinâmica amorosa funciona. Algo que talvez os personagens do longa não tenham, já que tanto Michael quanto Joanna são consumidos pela culpa e pelos sentimentos reprimidos. Aqui, o casamento é uma espécie de gaiola e sufoca os verdadeiros anseios dos personagens principais.
A condução de Tadjedin é impecável, lança um olhar no casal principal, Joanna e Michael, vividos por Keira Knightley e Sam Worthington. A edição é ainda mais interessante ao alternar cortes entre as falas de Joanna e o flerte de Michael e Laura no segundo ato do filme. O quarteto de atores está muito bem, em especial Keira Knightley e Guillaume Canet. Knightley, como de praxe, funciona melhor quando evita os excessos. Já o francês Guillaume Canet traz nuances determinantes para entender as motivações das escolhas passadas de seu personagem.
Sam Worthington é tentado pelas curvas de Eva Mendes na piscina do hotel. |
Apenas uma Noite é um singelo estudo sobre relacionamentos amorosos. Inteligente e, na grande maioria das vezes, sincero em suas conclusões, o longa junta-se a uma gama contemporânea de interessantes e subestimados dramas sobre relacionamentos amorosos, como Closer - Perto Demais, Amantes e, claro, De Olhos bem Fechados. Massy Tadjedin cria um intrincado núcleo de personagens e leva-os ao limbo. A cineasta comprova: não há nada pior do que a culpa em matéria de conflitos amorosos.
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