Nathalia Dill e Lívia de Bueno em Paraísos Artificiais. |
Primeiro longa de ficção de Marcos Prado, do documentário Estamira, Paraísos Artificiais explora a juventude sem consequências movida a dependência química. Para isso, Prado traz um mosaico com personagens que partem em uma viagem ao Recife para "curtir" uma rave na beira da praia. O centro da narrativa é o jovem de classe média Nando e duas garotas que vivem um relacionamento aberto, Lara e Érika, esta última VJ e uma das atrações do evento. A vida dos três toma rumos inesperados depois daquela temporada no Recife, sobretudo para Érika que encara as consequências crueis do uso incontrolado de substâncias químicas. Saber ao certo o que Prado pretendia com Paraísos Artificiais é uma incógnita. O cineasta não defende ou expõe pontos de vista, não amarra sua trama a uma conclusão intelectualmente assimilável. Assim, o que resta do longa são seus personagens e suas histórias.
Para uma estreia na ficção, vale lembrar que Prado conta com uma equipe de primeira, Paraísos Artificiais é muito bem editado e conta com um roteiro que consegue amarrar muito bem e lidar com seus vários núcleos de personagens, passagens no tempo e ambientes. Falta uma certa profundidade nos fantasmas do trio central, especialmente em Nando e Érika, protagonistas que acabam meio dispersos em suas emoções e motivações. Nathalia Dill e Lívia de Bueno estão ótimas e se expõe corajosamente, especialmente Dill, e Luca Bianchi conduz bem como o grande protagonista do longa. No entanto, o destaque do longa é César Cardadeiro, que vive o irmão mais novo do personagem de Bianchi.
Diferente de filmes que já ofereceram uma percepção diferenciada de um tema mais do que batido, como Requiém para um Sonho, de Darren Aronofsky, Paraísos Artificiais não traça uma conclusão sobre seus propósitos. Quer atingir o público pelo choque? Pela lição de moral? Pela moderação? Ao final da sessão fica difícil dizer, tudo fica muito igual ao que já foi dito ou visto sobre a questão. Paraísos Artificiais oscila entre a persuasão em sua edição e nas amarras de seu roteiro e o lugar comum de sua trama que beira a simplicidade de um folhetim da Rede Globo com proposta social que torna-se, inevitavelmente, inconsistente.
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