Os assessores de John McCain testam Julianne Moore: Sarah Palin da atriz é o grande destaque de Game Change. |
Julianne Moore é uma das atrizes mais interessantes de sua geração. Contudo, ao longo dos anos, a atriz amargou o que a maior parte das atrizes de sua idade sofrem, a escassez de personagens que lhes permitam trabalhar com o mínimo de dignidade possível. Assim, por muitos anos, acompanhamos a mesma intérprete de filmes como Boogie Nights, Magnólia, Longe do Paraíso e As Horas em longas risíveis como Os Esquecidos, A Cor do Crime e Leis da Atração. Como a vida não é fácil para ninguém e alguém tem que contribuir com as contas de casa, não há como culpar Julianne de suas últimas escolhas. No entanto, como tem acontecido a cada ano que passa com alguns dos melhores atores de língua inglesa, a HBO passou a ser reduto para explorar suas reais potencialidades, já que os estúdios cinematográficos preferem se render a continuações, remakes e adaptações. E Julianne é beneficiada com a tendência interpretando a governadora do Alasca, Sarah Palin, durante sua desastrosa escolha para ser vice-presidente na campanha de John McCain. O filme em questão é Game Change - Virada no Jogo.
Dirigido por Jay Roach, o mesmo realizador de outra trama política do canal, Recontagem, Game Change é ao mesmo tempo um thriller inteligente sobre as manobras políticas e reformulações nas estratégias eleitorais, cada vez mais afeita a imagens e na geração de entertainers que na de figuras comprometidas com ideais e propostas, e um envolvente estudo de personagem proporcionado pela brilhante interpretação de Julianne Moore como a interessante (do ponto de vista psicológico) Sarah Palin. O roteiro de Danny Strong avança em uma crescente tensão que leva a protagonista ao colapso e à constatação de que não está intelectualmente e emocionalmente preparada para o cargo como ela e os assessores de McCain pensavam. Não é por menos que a própria Palin rebateu o retrato do filme e se disse ultrajada com a forma com que foi mostrada pelos envolvidos.
Antes de falarmos da grande atração desta produção, vamos aos seus coadjuvantes. E que coadjuvantes! Woody Harrelson está interessante como o arranjador e analista estratégico de McCain, Steve Schimidt, responsável pela escolha de Palin para a vice-presidência. O personagem oscila entre a fascinação pelo carisma de Palin e a constatação de que foi responsável por uma das grandes gafes políticas do país. Ed Harris também está muito bem como John McCain, uma figura que inspira respeito e que tem plena ciência de que representa o passado em um país que troca a convicção de ideias pela idolatria a seus candidatos. Outra figura interessante do elenco é Sarah Paulson, assessora que lida diretamente com a instabilidade e a inabilidade de Palin. Um desempenho pontual e que merece surtir efeitos na carreira da atriz.
Agora, vamos a Julianne Moore. Certamente (sei que nunca podemos dizer isso, mas...), se Game Change fosse lançado nos cinemas, o filme renderia a Julianne Moore seu tão esperado Oscar, após quatro indicações em sua carreira. A interpretação da atriz neste filme é uma daquelas interpretações magnéticas e instigantes que nos levam a sentir toda sorte de sentimentos sobre a personagem, revelando a humanidade com que a mesma foi retratada. A Sarah Palin de Moore é uma dona de casa alçada a condição de governadora do Alasca por força do acaso e por seu carisma e identificação com os eleitores. Palin é vítima e ao mesmo tempo age consciente em um entorno que a usa como força agregadora de votos. A personagem se sente intimidada diante de sua falta de traquejo intelectual para certos assuntos, ao mesmo tempo que ganha uma auto-confiança perigosa diante do menor dos êxitos. Moore trabalha a personagens com cuidado, delineando cada um dos meandros da personalidade de Palin, retratando a personagem com fidelidade não apenas no gestual e na postação de voz, como também na condução de suas emoções e reações ao longo do filme.
Game Change - Virada no Jogo é um thriller político que merece ser visto pela maneira com que desnuda os bastidores de um processo político, revelando-se como uma denúncia sem vestir intencionalmente a carapuça de filme-panfleto. O longa é o vergonhoso retrato de um processo que a cada ano que passa - e o mais grave é que acaba mostrando-se como um fenômeno global - se apresenta como um jogo publicitário, um jogo que se sobrepõe aos reais intentos da caminhada democrática. Tudo ganha ainda mais relevância quando vemos uma das mais fantásticas atrizes lançadas pelo bom cinema norte-americano em plena forma interpretando uma das figuras mais ambíguas e emblemáticas da recente política dos EUA. Game Change é uma virada na carreira de Julianne Moore.
Game Change, 2012. Dir.: Jay Roach. Roteiro: Danny Strong. Elenco: Julianne Moore, Woody Harrelson, Ed Harris, Sarah Paulson, Peter MacNicol, Jamey Sheridan, Ron Livingston, David Barry Gray, Larry Sullivan, Mikal Evans, Colby French, Bruce Altman. 118 min. Em exibição nos canais HBO.
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