Rin Takanashi a protagonista de Like Someone in Loveposa para fotógrafos. |
Dia relativamente morno nesta segunda-feira, 21, no Festival de Cannes. Apesar de ter sido a estreia do aguardado filme do iraniano Abbas Kiarostami, Like Someone in Love, e do francês Alain Resnois, Vous n'avez encore rien vu, nenhum dos dois filmes foram capazes de provocar furor na Riviera, ainda que Kiarostami, como sempre, tenha comprovado que é um dos realizadores mais controversos da atualidade ao apresentar um longa sobre a prostituição sem fim ou começo delimitados.
Enquanto Kiarostami tinha na manga a japonesa Rin Takanashi, Resnois veio ao festival com seu robusto elenco que inclui Anne Consigny e Lambert Wilson.
Elenco de Like Someone in Love com Abbas Kiarostami. |
Kiarostami e seu elenco atenderam a imprensa na coletiva e o cineasta fez questão de deixar claro suas intenções cada vez mais evidentes de apostar nas mais diferentes nacionalidades em seus filmes. Foi o caso de seu último lançamento, Cópia Fiel, que rendeu em 2010 a Palma de Ouro de melhor atriz a Juliette Binoche, e é o caso deste novo filme, Like Someone in Love, que se passa no Japão.
O filme conta a história de uma estudante universitária japonesa que financia sua vida acadêmica através da prostituição. Ela começa a manter um relacionamento com um professor solitário. Tudo é mostrado numa espécie de realidade paralela.
O diretor aproveitou para fazer sua crítica ao cinema japonês atual. "Não consigo captar a alma e a emoção daqueles filmes. Talvez não tenha visto os filmes japoneses certos de hoje em dia, mas o que vi não me agradou". Entre as dificuldades encontradas em seu novo projeto, os presentes destacaram o financiamento do longa. "Encontrei duas soluções: primeiro, a ajuda do Ministério da Cultura e, por outro lado, sou coleccionador e vendi uma obra de Yves Klein para financiar o filme", disse o produtor Kenzo Horikoshi.
Mas nada foi tão controverso quanto a opção de Kiarostami de não definir um início ou um término para Like Someone in Love, atestando sua fama subversiva e autêntica como narrador de histórias em celulóide. "Na última cena, o que me veio à cabeça foi “THE END”. Disse a mim mesmo: 'isto não pode ser o fim'. Percebi também que não tinha início. O meu filme não começa nem acaba. É o que acontece na vida. Chegamos sempre depois do início e as coisas começaram antes de nós.".
Veja o que foi dito sobre o filme de Kiarostami em Cannes:
"O filme brinca com as expectativas dos personagens e do espectador, transformando uma narrativa linear em um filme cheio de segredos e complicações", Jordan Mintzer, Hollywood Reporter
"Tem ideias interessantes e ótimas interpretações num fascinante exercício de controle do diretor, mas a cortina cai justamente quando o drama começa a parecer interessante.", Peter Bradshaw, The Guardian
Assista ao trailer de Like Someone in Love:
Elenco de Vous n'avez encore rien vu posa com o diretor Alain Resnois. |
O francês Vous n'avez encore rien vu parece ter seguido a mesma sorte. A comédia ambientada no universo teatral acompanha um grupo de atores de uma companhia que vão prestar uma homenagem a um colega moribundo. Durante a coletiva, o veterano Alain Resnais, autor da obra, falou um pouco sobre seu cinema e recebeu declarações emocionadas de todo o seu elenco pela experiência que tiveram.
"Não penso em termos de carreira. Sou um faz-tudo. Este filme não é parecido com nenhum outro. Se eu tivesse pensado no filme como um testamento, nunca teria tido a audácia e a energia de o fazer", falou o diretor sobre a obra.
Quem tomou a palavra e falou sobre a experiência ao lado do diretor, com a saúde visivelmente abalada, foi a atriz Anny Duperey: "Todo este amor em torno de Alain estava a serviço de um texto. Não fomos reféns de uma idade, de uma personalidade, de um papel. Estávamos ao serviço de Jean Anouilh, do teatro, de uma beleza. Quando vi o filme, esperava mais virtuosidade, mas não esperava ser recebida assim. Toda esta virtuosidade estava a serviço da emoção. É um trabalho magnífico", disse emocionada a atriz.
Veja o que foi dito sobre o filme no festival:
"Esta reflexão do passado, de amor e morte, é séria e irreverente. Engajado com uma certa sofisticação, mas frustrado por suas limitações.", Todd McCarhty, Hollywood Reporter
"Apesar dos momentos charmosos, o filme é prolixo, inerte, indulgente e ocasionalmente tolo", Peter Bradshaw, The Guardian
Assista ao trailer:
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